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[EDITORIAL] De volta ao passado?

São crescentes as incertezas com relação ao comportamento da economia global, seja no que toca ao desempenho, seja por conta do risco de rupturas que soam como ameaça e ao mesmo tempo retrocesso. Da Europa vem o mais recente exemplo da crescente instabilidade que, no caso do Velho Continente, tem como um de seus fortes componentes a retirada do Reino Unido do bloco, movimento que pode antecipar uma desagregação mais profunda. Na América do Norte a instabilidade se confunde ou é causada pelo comportamento do presidente dos Estados Unidos, fragilizando as alianças regionais – Canadá e México – e, pela importância do país, projetando-se mundo afora e potencializando conflitos numa espécie de regressão aos tempos da Guerra Fria, com a China ocupando o espaço que antes pertencera à União Soviética. Até a corrida espacial volta a ser instrumento de propaganda e de disputa, como se estivéssemos todos de volta aos anos 60 do século passado.

Um comportamento, no geral, tão insano quanto imprevisível, na perspectiva de que as diferenças se acentuam, a concentração da renda aumenta de um lado e a pobreza de outro enquanto os esforços de integração vão desaparecendo. A União Europeia presentemente discute a questão abertamente, no sentido que construir outros elementos que integrem e fortaleçam a economia da região, numa postura claramente de isolacionismo. Os europeus, por exemplo, querem construir empresas fortes, de dimensão e capacidade de atuação global, num processo em que parceiros de fora não serão bem-vindos. Ao mesmo tempo são propostas e discutidas medidas protecionistas, num quadro imaginário em que o bloco se bastaria.

São movimentos que parecem bem ensaiados, com o objetivo final de dividir o mundo entre Estados Unidos, Europa e China, cada um deles com suas respectivas áreas de influência, e sem que exista uma bula papal para validar este acerto como uma espécie de novo Tratado de Tordesilhas. As mudanças políticas, com inclinação à direita, parecem inspirar o isolamento, definindo claramente as áreas periféricas, mas ao mesmo tempo pondo de lado os conceitos de racionalidade que, no campo da produção e do comércio, seriam as garantias de resultados, de participação e de nivelamento.

Um horizonte nublado, cinza, no qual não parece existir espaço desejável para países como o Brasil, os antigos emergentes dos quais hoje tão pouco se fala. Enxergar o que se passa, com absoluto senso de realidade e pragmatismo, é o primeiro passo para que possamos nos situar. E nos defender na medida do possível.

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