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Política à mesa: Bares em BH apostam em viés ideológico

Política à mesa: Bares em BH apostam em viés ideológico
José Neto, Gustavo Lopes, Daniel Laender e Guilherme Laender (da esq. para dir.): abaixo à demonização da direita - Créditos: divulgação

A polarização política entre esquerda e direita que tomou conta do Brasil nos últimos anos, invadiu também os negócios. Seja por ideologia ou marketing, empresários baseiam-se nos alinhamentos políticos conflitantes para angariar um público que é, literalmente, fiel.

Em Belo Horizonte, há bares declaradamente de esquerda e, recentemente, a cidade também ganhou o Destro, bar que surgiu como um espaço de lazer e propagação de ideias de direita. Na internet, diversos negócios também apostam na ideologia para a venda de produtos como camisetas e canecas.

Inaugurado no fim de março no bairro Sion, região Centro-Sul da Capital, o Destro é o primeiro bar declaradamente de direita, conforme afirma o sócio, Gustavo Lopes. Segundo ele, a ideia surgiu primeiro como uma brincadeira entre amigos, mas acabou se tornando realidade.

“Já existem muitos bares de esquerda em Belo Horizonte, mas não havia um que se declarasse de direita. Resolvemos abrir o Destro até para trazer à tona a ideologia, que muitas vezes é demonizada. Nosso objetivo é, de maneira leve, falar sobre os pensamentos de direita para acabar com essa demonização”, afirma.

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O bar funcionará de terça a domingo, com almoço nos finais de semana e happy hour a partir das 17 horas durante a semana.

A casa é decorada com o tema verde e amarelo e tem frases de personalidades como Tiradentes, Dom Pedro II, Frank Sinatra e Olavo de Carvalho. Já o banheiro feminino é identificado por uma placa com o rosto de Margaret Thatcher e o banheiro masculino por uma placa com o rosto de Winston Churchill. Há, também, um espaço com um estande de tiro com armas de brinquedos para maiores de 18 anos.

Os pratos também são temáticos e provocativos. No cardápio o item 13 é o pão com mortadela, mas logo abaixo há um aviso de que “acabou”. Há, ainda, o prato triplex, que é a maior porção de petiscos do bar e o Lula Presa, que é um prato de Lula assada.

O cliente do Destro ainda pode escolher entre oito tipos de coxinhas. “Como somos carinhosamente chamados”, completa. Os pratos custam, em média, R$ 60 e os petiscos variam de R$ 16,90 a R$ 120.

Segundo o empresário, o espaço terá programação com pequenas palestras e colóquios com especialistas da direita. Ele afirma que, embora o bar tenha sido criado por uma questão ideológica dos sócios, ele enxerga a polarização como uma oportunidade de marketing.

“Entendemos que essa brincadeira com a questão ideológica é, sim, uma jogada estratégica para o negócio”, diz. Ele não revela o valor investido no bar, mas garante que o sentimento é de otimismo.

Esquerda – No outro polo da política brasileira, o Ursal Bar abriu as portas há dois meses com alinhamento totalmente à esquerda. A casa fica no bairro Santa Tereza, na região Leste da Capital, e tem em sua decoração imagens de personalidades como Che Guevara e Fidel Castro, além de muitos detalhes na cor vermelha.

A sócia, Ranara Feres, afirma que a casa foi criada logo após a derrota da esquerda nas urnas, nas últimas eleições. A ideia era construir um espaço de refúgio e descontração para os adeptos à ideologia esquerdista.

“Com as últimas eleições sentimos medo de surgir uma onda de violência e pensamos no Ursal Bar como um ambiente seguro para conversarmos. Temos uma proposta 100% política, mas é um espaço aberto a pessoas que tenham o objetivo de se divertir”, afirma.

Entre os pratos servidos no estabelecimento está o “Volta, Querida”, que é de mandioca com parmesão.

“É uma homenagem à Dilma, que foi massacrada por saudar a mandioca, que é uma fonte de alimento importante para o Brasil”, diz.

Há, ainda, o combo “Saudade do meu ex”, que inclui o prato e a cerveja Lula Livre e uma foto do ex-presidente. O bar também tem homenagens provocativas, como o drinque Queiroz, que é a base de laranja, e o “Dentro, Temer”, que pede a prisão do ex-presidente e é feito com limão capeta, mexerica e canela.

A sócia garante que o bar é muito mais uma ação de militância do que um negócio, mas afirma que a proposta tem gerado grande resultado. Prova disso é a expansão do bar, que terá uma segunda unidade no bairro Santa Efigênia, também na região Leste. A previsão é de que ele seja inaugurado no próximo mês.

Produtos na internet – A política também é a inspiração para diversas lojas on-line. Criado pela belo-horizontina Carla Magalhães, o site “Eu Não me Calo” vende camisetas, sacolas ecológicas e quadrinhos decorativos com temas alinhados à ideologia de esquerda.

Créditos: reprodução

A criadora do negócio, que também é advogada e está envolvida com movimentos sociais, explica que as vendas são feitas pela internet, mas também em eventos e feiras com essa mesma ideologia.

As camisetas são o carro-chefe da marca, sendo a mais vendida justamente a estampa que leva o nome da loja. Ao todo, a marca tem 18 estampas com frase como “Amar sem Temer”; “A saída é pela esquerda”, além de imagens de personalidades como Dandara e Fidel Castro. As camisetas custam R$ 45, as bolsas R$ 30 e os quadrinhos R$ 60.

A advogada explica que as vendas dos produtos acompanham o momento político. Quando há uma movimentação ou polêmica, por exemplo, as vendas aumentam. Ela acredita que a política pode, sim, ser explorada como negócio, mas é preciso bom senso.

“Estamos tentando viver uma democracia, então todos têm direito a ter uma marca com posição ideológica. O complicado é a apologia à violência”, pondera.

Entre os representantes dos negócios de direita na internet está o e-commerce Camisetas Opressoras. A marca, que foi criada pelo casal Wilker Amaral e Denise Amaral é, inclusive, muito utilizada pela família Bolsonaro.

O sócio explica que ele e a esposa sempre foram politicamente envolvidos e faziam camisas para eles mesmos, até que perceberam que isso poderia se tornar uma marca.

“A polarização já existe, então entendemos que nesse cenário é importante divulgar o que acreditamos. É um ideal que virou negócio”, diz.

A Camisetas Opressoras comercializa, como o próprio nome diz, camisetas, mas também canecas, moletom e meias. As camisetas são as mais vendidas, sendo as estampas ligadas ao Bolsonaro as mais requisitadas. São frases como “Bolsonaro Presidente” e “Meu Partido é o Brasil”. Estampas contra o comunismo também têm grande sucesso, segundo o empresário. Os preços dos produtos variam de R$ 29,90 a R$ 39,90.

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