Opinião

Encruzilhada da história

CESAR VANUCCI *

É mais difícil quebrar um paradigma do que quebrar o átomo.”(Albert Einstein)

Damos prosseguimento hoje à divulgação de algumas reflexões sobre o perturbador momento humano, feitas ao ensejo de meu ingresso, dia 30 de março passado, nos quadros do venerando Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, mais antiga instituição cultural do Estado. Nas considerações alinhadas anteriormente, comentei os desafios enfrentados pela sociedade de nossos tempos no sentido de remover obstáculos da vida moderna prejudiciais à evolução civilizatória em termos de justiça social.

As palavras da sequência fazem parte do pronunciamento citado.
“Noutra vertente do desconsolo e frustração humanos, podemos descortinar também como amostra do que costuma rolar, uma gritante incongruência de um estado de coisas que carece ser reavaliado. Na tevê, uma mãe angustiada reporta-se ao drama da filha acometida de doença rara. O tratamento foi interrompido por faltarem recursos pra compra de remédio. Lamenta-se que o governo não tenha liberado verba para o medicamento, de custo elevadíssimo. Cogita-se de medida judicial.

É legítimo analisar-se o episódio sob outro enfoque, coerentemente humanístico. Será que já não é chegada a hora de se reverter o rumo de coisas não harmonizadas com a essência da vida? Se existe medicamento em condições de curar, o produto tem mais é que ser liberado, rápido e rasteiro, para o paciente. Chegado é o momento de se pensar na criação de condições decentes para que benefícios dessa ordem não sejam sonegados, jeito maneira, a quem deles venha a necessitar. As lideranças mundiais precisam botar a criatividade e a sensibilidade para funcionar na busca de esquemas que reestruturem procedimentos incompreensíveis à luz do bom senso. Que tipo de ação, num mundo verdadeiramente regido pela harmonia social, seria legítimo esperar-se dos governantes, das lideranças ao se defrontarem com a descoberta de uma terapia nova e eficaz? Correto supor que eles se sentissem compelidos a definir fórmulas que viessem a recompensar, generosamente, os pesquisadores e as organizações comprometidos nos edificantes trabalhos voltados para o bem-estar comunitário. Ao mesmo tempo, cuidariam, com empenho, de assegurar o fornecimento imediato, aos interessados, das drágeas e injeções recuperadoras da saúde, assim por diante…

Chegamos a uma encruzilhada da história em que o clamor social e a evolução civilizatória impõem a quebra de paradigmas. Mesmo sabendo, conforme Einstein advertia, ser mais difícil quebrar um paradigma do que quebrar o átomo…

As narrativas históricas não podem se conformar com o papel subalterno de, simplesmente, fazerem ecoar os “releases” das ambições entocaiadas das conveniências dos açambarcadores de exorbitantes quinhões do patrimônio da riqueza coletiva. Uma minoria insensível, visivelmente emaranhada no pérfido jogo dos privilégios mundanos, que influencia rudemente o descarte das propostas de solidariedade social recomendadas pelo humanismo e pela espiritualidade.

Muitos os paradigmas a quebrar. Muitas encrencas a desfazer. Os impasses e as pedras do caminho a remover parecem, às vezes, intransponíveis. Essa miríade de questões pendentes, à espera de soluções sintonizadas com os anseios que habitam lares e ruas em todas as latitudes planetárias, pede reflexão, meditação, vontade política, ação… oração.

Como pode uma civilização investida da capacidade de promover saltos tecnológicos prodigiosos, inimagináveis, como os que vêm sendo alvissareiramente registrados de curtíssimo tempo aos dias atuais, coexistir com situações assustadoras e degradantes, sinalizando até mesmo barbárie, como rotineiramente se pode detectar por aí?
No próximo comentário, uma tentativa de responder à indagação.

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