Opinião

EDITORIAL | Velha política sai na frente

EDITORIAL | Velha política sai na frente
Créditos: Reprodução

Nas contas mais atuais o Executivo contaria, hoje, com cerca de duzentos votos favoráveis à reforma do sistema previdenciário, número que indica, na perspectiva do governo, uma evolução favorável, porém ainda insuficiente para assegurar o resultado desejado. E sem que este primeiro objetivo seja alcançado, o ajuste fiscal, apontado como ponto de partida para a retomada da economia, deixa de existir, com as contas públicas avançando para um ponto não muito distante do colapso.

Tudo isso é o resultado de distorções acumuladas ao longo do tempo, transformando o Estado em patrocinador de privilégios e vantagens que não há mais como sustentar. Infelizmente, porém, uma discussão que deveria ser técnica e pautada pelo senso da realidade, acaba sendo ocasião para a repetição de manobras em que o interesse público parece ser o que menos importa.

A disputa, mais uma vez, é exclusivamente política e quem tem o poder de decidir parece preferir o caminho menos arriscado, mesmo sabendo que ele aponta na direção do abismo. Em Brasília impressiona a falta de argumentos e, mais ainda, de propostas e talvez seja exatamente este o objetivo.

Eis porque começam a surgir comentários de que no Congresso existe quem considere que a aprovação da reforma, tal como apresentada e capaz de gerar economia de R$ 1 trilhão em dez anos, conforme aponta o ministro Paulo Guedes, pavimentaria a estrada que o atual governo tem pela frente, tornando o presidente Bolsonaro imbatível nas eleições de 2022.

Quem faz estas contas acredita que a vitória de proposta governista daria confiança aos investidores, estrangeiros especialmente, tornando possível uma virada da economia em pouco tempo. Assim, e maquiavelicamente, acreditam que a dose deva ser controlada, com o trilhão proposto reduzido à metade.

Dito de outra forma, o atual mandato mal começou. Na última quarta-feira o presidente Bolsonaro completou apenas os 100 primeiros dias de seu governo, mas as manobras políticas ao seu redor já são condicionadas, quase abertamente, às próximas eleições.

Nesse sentido, seu sucesso se transforma numa ameaça, pouco importando que o fracasso implique em severas consequências para a maioria dos brasileiros. E ninguém mais parece se lembrar que a gestão Temer começou com a bandeira de um ajuste fiscal imediato e eficaz e terminou com o então presidente apresentando os mais altos índices de reprovação já registrados, enquanto as reformas eram transferidas ao seu sucessor, com o argumento de que este teria melhores condições políticas para realiza-las.

Não é o que está sendo visto, assim como não são percebidos os sinais das prometidas mudanças, de uma nova política que traduziria mais adequadamente os anseios da maioria da população brasileira, dando fim aos erros que ganharam escala nas últimas décadas. Resta aguardar, embora não pareça haver tempo para isso.

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