Inovação e gestão compartilhada na engenharia

ILSO JOSÉ DE OLIVEIRA*
No início de abril tive a oportunidade de me reunir com cerca de 90 dirigentes representantes de diferentes segmentos, entre eles projetistas, construtoras, montadoras e gerenciadoras, além de grandes contratantes de obras.
O evento foi o Workshop sobre BDI, organizado pela Comissão de Obras Industriais e Corporativas da CBIC (COIC). Nele, falou-se muito sobre o processo de formação de preços e as melhores práticas para o sucesso total dos projetos. Em todos os debates os pontos de convergência, e que considero fundamentais para alcançar o sucesso dos empreendimentos, passaram pela inovação e pela gestão compartilhada.
Eis nesses dois conceitos a primeira quebra de paradigmas que o setor precisa vivenciar. Ao falarmos em inovação, precisamos necessariamente estar abertos à tentativa e ao erro. Isso passa por uma transformação, na qual é necessário diminuir a importância dos indicadores de curtíssimo prazo e de ambientes excessivamente controladores, pois estes são uma aversão à fronteira do conhecimento aplicado. Para praticar a inovação, é preciso estimular ambientes harmoniosos e desafiadores, ainda distantes dos modelos que vemos hoje na maior parte do segmento.
A prática destes conceitos se torna cada vez mais urgente, já que estamos vivenciando uma fase de transição no mercado. Percebo nas empresas o desejo cada vez maior de se adaptar e de trazer conceitos inovadores para sua gestão. O nosso setor também passará por essa transformação que é a Indústria 4.0 e é fundamental que o segmento de obras industriais esteja alinhado para saber reconhecer e ser parte desse processo.
Ficou claro nas discussões do Workshop que a inovação passa pelo compartilhamento de informações e pela gestão da confiança. Ou seja, é imperativo que as empresas estejam dispostas a trocar conhecimento e a formatar um pacto no sentido de resolver problemas que têm em comum. Entender que nós aprendemos nas diferenças e que precisamos da união do setor para discutir e incentivar as melhores práticas é o ponto de partida para o desenvolvimento.
Pensando nesse sentido, o evento também foi uma oportunidade de reflexão conjunta sobre o processo concorrencial. Foi apresentada a nova versão da Cartilha de Bonificações e Despesas Indiretas (BDI) para Obras Industriais e Corporativas, a qual está em fase final de conclusão. Esta cartilha resulta de um trabalho colaborativo realizado pela Subcomissão de Contratos do Sinduscon-MG juntamente com diversos parceiros para alinhar conhecimentos sobre a etapa de formação de preços, visando à redução de conflitos e ao aumento do nível de sucesso na implantação de projetos. A discussão em parceria foi o ponto chave para buscar as melhores soluções sobre o tema.
A transformação do setor passa pelo alinhamento de processos como esse, buscando um esforço mútuo para a valorização permanente da Engenharia. Não podemos nos esquecer da importância do segmento para a retomada do crescimento do País e para a geração de empregos formais e qualificados. Em um projeto de médio porte, por exemplo, são gerados em torno de 800 empregos diretos apenas na fase de implantação, o que é muito significativo para o mercado de trabalho.
Arrisco dizer que as organizações de sucesso do futuro estão preocupadas agora em transmitir um propósito transformador de longo prazo focando as necessidades dos clientes. A equalização ideal de esforços para a inovação, segundo Hugo Tadeu, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral em Inovação e Empreendedorismo, diz de uma necessidade de investimento de 70% em processos, 20% em produtos e serviços, buscando novos mercados e novos clientes e apenas 10% em tecnologia. Percebe-se com isso que não é a tecnologia o sinônimo da inovação, mas sim as mudanças culturais nas empresas. E é esse caminho que precisamos trilhar, cada um da maneira que for mais viável para a sua organização, mas juntos buscando um sentido único para essa transformação.
- Presidente da Comissão de Obras Industriais e Corporativas da CBIC e vice-presidente de Obras Industriais do Sinduscon-MG
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