“Jovens fora da escola e do mercado é antidemocrático”, diz Evandro Neiva
A cada um minuto, um aluno desiste da escola no Brasil o que, em 2018, representou 880 mil estudantes abandonando as salas de aula. Os Indicadores Educacionais e Financeiros de 2018 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revelam ainda que 2,7 milhões de crianças e jovens repetiram de ano. Considerando o gasto anual por aluno, a perda no País foi de R$ 23 bilhões por ano com a repetência e a evasão.
Enquanto apenas 58% dos alunos que iniciam o Ensino Fundamental concluem o Ensino Médio de acordo com as informações do Censo da Educação Básica de 2018, a Avaliação Nacional da Alfabetização das Escolas Públicas de 2016 (ANA) realizada pelo Inep, traz um panorama no qual cerca de 55% dos estudantes do 3º ano do Ensino Fundamental apresentam nível insuficiente de aprendizado de Matemática e Leitura no País. Os dados da ANA em Minas Gerais mostram aproximadamente 38% dos estudantes com nível insuficiente de desempenho nessas áreas de aprendizado.
Sendo assim, a especialista em Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ana Luiza Snoeck, reforça que o problema do baixo desempenho começa na raiz.
“As crianças saem do Ensino Fundamental sem estar plenamente alfabetizadas e sem dominar minimamente o raciocínio lógico e matemático. Portanto, as taxas absurdas de reprovação e abandono estão relacionadas a essa dificuldade em seguir o percurso na educação”, avalia.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Complexidade – Apesar dos altos níveis de reprovação e abandono nas escolas, o presidente do conselho empresarial de educação da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Evandro Neiva, reforça que a complexidade e o tamanho do sistema educacional, sobretudo na Educação Básica, devem ser levados em conta para avaliar e entender as dificuldades enfrentadas por diretores, professores, funcionários e alunos.
“Não se pode analisar a educação brasileira de uma maneira simplista, é preciso levar em conta a complexidade. O que existe é a possibilidade concreta das escolas melhorarem em diferentes graus e em circunstâncias diversas devido ao tamanho do sistema”, explica.
Na avaliação de Neiva, os jovens que estão fora da escola e do mercado de trabalho jamais serão incluídos e essa exclusão é a antidemocracia. Nesse sentido, é preciso assegurar que esses jovens estejam nas salas de aula para se preparar para o desenvolvimento do mercado de trabalho.
Uma das iniciativas que conta com a participação da ACMinas na tentativa de garantir a presença e a participação do jovem na escola é a Conspiração Mineira pela Educação. Criado em 2006, o movimento tem como objetivo contribuir para a melhoria da educação básica em Minas Gerais, especialmente para as redes de escolas públicas do Estado e dos municípios. Segundo Neiva, é realizado um trabalho sistemático com fóruns direcionados aos diretores das escolas para disseminar melhores práticas e proporcionar troca de experiências.
Além do foco em evitar a evasão e recuperar os alunos que abandonaram a sala de aula, outro aspecto da iniciativa é assegurar o acesso ao primeiro emprego.
“O trabalho que fazemos em Minas, com forte apoio da Associação Comercial é para assegurar que o jovem esteja dentro da escola. As empresas afiliadas à ACMinas estão disponíveis para fazer a empregabilidade acontecer uma vez que, se o jovem não tem oportunidade de emprego ou de estágio, ele não pode ser incluído”, ressalta Evandro Neiva.
Em função das fragilidades da educação básica, o Brasil mantém também altas taxas de analfabetos funcionais. Isso porque as pessoas levam para a vida adulta déficits na capacidade de leitura, escrita e raciocínio matemático. Segundo o Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) do Instituto Paulo Montenegro/Ibope, o analfabetismo funcional atinge 29% da população.
Ouça a rádio de Minas