Bolsa segue ancorada na reforma da Previdência

Diante de um primeiro semestre marcado pela lenta retomada da economia brasileira, com investimentos em infraestrutura e energia pouco significativos e uma articulação política pouco efetiva por parte do governo de Jair Bolsonaro, a B3 (Bolsa de Valores de São Paulo) registrou forte volatilidade na primeira metade de 2019. A expectativa para o restante do exercício segue ancorada na aprovação da reforma da Previdência e na melhoria dos índices econômicos do País.
A avaliação foi feita por especialistas do mercado financeiro que acreditam que o Ibovespa pode fechar o ano acima de 100 mil pontos e que ações de empresas do varejo (comércio e serviços), de commodities e da construção civil concentrarão os investimentos em papéis nos próximos meses.
De acordo com o analista de investimentos da Terra Investimentos, Regis Chinchila, a aposta na aprovação da reforma vem desde o início do ano e, justamente o seu atraso, foi um dos responsáveis por tamanha oscilação no mercado de ações nos primeiros meses de 2019. Além disso, conforme ele, as sucessivas revisões das projeções do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro também influenciaram bastante as decisões de investimentos no País.
“Era esperada uma atividade econômica melhor, assim como uma atividade política mais acertada por parte do novo governo, mas o principal acompanhamento sempre foi a reforma da Previdência. De maneira geral, houve muita expectativa para pouca entrega”, explicou.
Assim, segundo Regis Chinchila, por dois meses consecutivos o Ibovespa enfrentou movimento de forte queda. Já para o restante do ano a expectativa segue ancorada na aprovação da reforma, mas com indícios maiores de que deverá avançar no Congresso Nacional.
“No que se refere à bolsa de valores há sempre risco e volatilidade. Por isso, a maior perspectiva é de que haja uma trajetória positiva nos próximos meses, diante dos cenários que começam a se formar, mas sem efetivas garantias”, ponderou.
Sobre os setores que deverão ancorar os investimentos nos próximos meses, o analista citou varejo e comércio, as empresas de commodities e até as instituições financeiras.
Pouco satisfatório – O economista sênior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, concordou que o desempenho da atividade econômica brasileira foi bem abaixo do que o mercado esperava, muito embora outras questões também tenham contribuído um primeiro semestre pouco satisfatório no mercado de ações. Entre elas o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, a situação econômica da Argentina e a conjuntura econômica internacional.
“Agora o Brasil já esta perto de superar a barreira da reforma, as taxas de juros estão menores, assim como o cenário de custo do capital. Isso certamente vai influenciar o desempenho dos papéis nos próximos meses. O governo também já está superando a fase de ruídos e problemas e a expectativa das concessões e privatizações também deverá se concretizar, assim como a reforma que já começa a avançar”, avalia.
Dessa maneira, a expectativa do especialista é que áreas como a construção civil sejam favorecidas, assim como as de comércio e serviços. Já em relação ao Ibovespa, ele disse que do ponto de vista qualitativo e pensando num cenário de liquidez, queda de juros e de recuperação mais efetiva da economia, há tendência de novos recordes no índice nacional.
Ibovespa bate recorde e fecha a semana em alta de 3,1%
São Paulo – O Ibovespa encerrou a sexta-feira (5) com leve alta, o suficiente para garantir nova máxima histórica, descolando-se dos mercados internacionais, sob influência pela expectativa de aprovação da reforma da Previdência no plenário da Câmara na próxima semana.
O Ibovespa subiu 0,44%, para o recorde de 104.089,47 pontos. O volume financeiro da sessão somou R$ 15 bilhões. Na semana, o Ibovespa avançou 3,1%.
Os investidores monitoraram os passos finais da tramitação da reforma da Previdência, com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmando que começa já no sábado as movimentações para garantir a aprovação da matéria no plenário da Casa a partir da próxima semana.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou que algumas questões da reforma serão corrigidas na votação no plenário da Câmara, e destacou que espera a aprovação final da matéria na Casa antes do recesso parlamentar.
“O descolamento do Ibovespa (em relação aos mercados internacionais), se dá muito por conta do otimismo quanto à reforma da Previdência”, disse o analista Ilan Arbetman da Ativa Investimentos.
Antes de fechar no azul, o índice chegou a recuar quase 1%, após a alta da véspera e também influenciado pelas bolsas do exterior, diante da forte criação de emprego dos Estados Unidos em junho, reduzindo as expectativas de um corte agressivo de juros pelo Federal Reserve neste mês.
O relatório de emprego do Departamento do Trabalho dos EUA mostrou a criação de 224 mil novos postos de trabalho fora do setor agrícola no mês passado, o maior número em cinco meses e acima do esperado.
Em Wall Street na volta do feriado, o índice S&P 500 cedeu 0,18%.
Dólar – O dólar registrou a maior alta em mais de uma semana ante o real na sexta-feira, voltando a superar o nível de R$ 3,80 reais, em meio à força global da moeda depois de dados mais fortes nos Estados Unidos refrearem apostas agressivas de cortes de juros pelo Federal Reserve. O dólar à vista subiu 0,54%, a R$ 3,8200 na venda. É o maior ganho percentual diário desde 25 de junho (0,69%). Na semana, a cotação acumulou queda de 0,55%. (Reuters)
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