Opinião

É urgente uma autorreforma dos partidos políticos

É urgente uma autorreforma dos partidos políticos
Crédito: REUTERS/Ricardo Moraes

Tilden Santiago *

Todos os partidos políticos brasileiros estão precisando de uma autorreforma como estratégia para melhorar a devida sintonia com as expectativas da população e para gerar uma Nova Política.

PSDB, MDB e PT estão particularmente necessitados de reestruturação. PSDB e PT, que ficaram longos anos no governo, estão enfraquecidos politicamente e desgastados. Perderam a confiança da opinião pública. Construíram uma democracia muito relativa após a ditadura, nos mandatos de FHC, Lula e Dilma.

Já o MDB soube, oportunisticamente, pular na garupa dos dois, participando da hegemonia de ambos. O MDB, essa federação de partidos foi purificada de seus vícios e contradições pelos tucanos, sem dúvida o grande responsável pela Velha Política, que freava o avanço democrático das massas humanas, da sociedade e do Estado brasileiro. Pelos três, a política nacional patinou e caminhou para o vazio partidário em que vivemos.

Só se vislumbram cenários para uma ação política legítima, avaliando com serenidade a conjuntura, bem interpretada e entendida. Aliás, Karl Marx sempre repetia que só entendemos e solucionamos um problema depois que vislumbramos uma pista de solução, uma luzinha no fim do túnel.

Antes de tudo, é bom lembrar que durante 34 anos, a partir de 1985, o País alternou “ciclos autoritários” e de predomínio da “democracia”, ao longo da história republicana. Vivemos agora o ciclo mais longevo de democracia na República.

Qual o fator-chave para entender a crise aguda? O fator é a crise política iniciada a partir de 2013. Este foi um marco de deterioração do sistema político, com óbvia inconformidade da população com a situação existente.

Não se fabrica artificialmente uma solução abstrata. A restauração de um Estado brasileiro legítimo só se dará na cena de luta política e social travada pelos partidos e pelas classes sociais no âmago do Estado e da sociedade. Urge uma reforma política do sistema, que só acontecerá com um renascimento simultâneo e reestruturação de cada partido político.

O Partido Socialista Brasileiro (PSB), que pulsa pelo “Socialismo e Liberdade”, liderado pelo presidente Carlos Siqueira, pela Executiva e Diretório Nacional, se empenha na sua “autorreforma”, como forma de proteger a democracia, tarefa que unifica a luta contra o retrocesso. Um exemplo para os demais partidos, convidando-os a uma autocrítica. É a contribuição do partido da Pomba da Paz para a tão desejada reforma política e instalação de uma Nova Política.

É preciso botar o dedo na ferida e encarar alguns problemas mais agudos: a fragmentação partidária, as complexas relações entre Executivo, Legislativo e STF, o desarranjo do sistema político e suas instituições, o número excessivo de partidos, as legendas de aluguel, a falta de conteúdo político e ideológico em algumas siglas, a ausência de educação política interna e externa do partido, uma melhor ordenação via cláusulas de barreira, a obsessão com o presidencialismo em detrimento do parlamentarismo, a corrupção que acaba permitida e contamina os dirigentes, o desconhecimento da hegemonia democrática proposta por Antônio Gramsci, desconhecimento de Edgar Morin, ainda indignado aos 98 anos defendendo uma Nova Política e educação, centradas no conceito de “pensamento complexo” e de “transformação”, em vez de “Revolução”, a incapacidade de tomar consciência da insuficiência da democracia participativa e a falta de empenho de utilização de mecanismos democráticos e populares de participação direta, já previstos na Constituição – plebiscito, referendo, projetos de lei de iniciativa popular etc.

*Jornalista, embaixador e militante

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