Economia

Tonelada de minério é cotada acima de US$ 120

Tonelada de minério é cotada acima de US$ 120
Cotação internacional do insumo siderúrgico passou de US$ 65 para cerca de US$ 120 neste ano - Crédito: PATRICK GROSNER

Desde o rompimento da barragem da Vale na Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), em janeiro, o preço do minério de ferro no mercado internacional praticamente dobrou. Se no começo do ano a tonelada do insumo siderúrgico era comercializada em patamares próximos a US$ 65 agora já ultrapassa os US$ 120.

Mas não foi só a estimativa de déficit de cerca de 50 milhões de toneladas por ano da mineradora brasileira que interferiu no preço. A relação entre oferta e demanda da commodity também foi impactada por problemas climáticos na Austrália, já que um ciclone reduziu a produção de minério de algumas mineradoras daquele país.

Tamanhos os impactos do corte na oferta e do consequente aumento dos preços que o governo chinês já estuda intervir no mercado e derrubar a cotação.

Consultados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, especialistas são enfáticos ao dizer que, independentemente das medidas, dificilmente o preço da commodity baixará dos US$ 100 entre este e o próximo exercício.

O analista de investimentos da corretora Mirae Asset, Pedro Galdi, explicou que por mais que o governo chinês faça algo para conter os preços e beneficiar as siderúrgicas asiáticas, não conseguirá nada além que US$ 10 ou US$ 15 e que, ainda assim, os patamares que se encontram hoje a tonelada do minério manteriam os preços perto de US$ 100.

“A oferta está baixa e os estoques já não muito elevados, daí a dificuldade de conter demais, por causa da relação entre oferta e demanda. Acredito que US$ 100 a tonelada seja aceitável para este ano e o próximo”, estimou.

Como consequência, conforme o analista, virão investimentos por parte das mineradoras em aumento da produção. Segundo ele, a própria Vale precisará buscar alternativas para recompor as perdas a partir da paralisação de parte de suas operações, por exemplo. Além disso, algumas empresas que possuíam custo de produção elevado poderão voltar a ser atrativas com a alta do preço.

“Já entre as siderúrgicas, a meu ver, a grande beneficiada será a CSN, pois não teve nenhuma perda de produção, produz o que consome e vende o excedente. Já a Usiminas e a Gerdau não serão tão afetadas, porque produzem praticamente para uso próprio. Por outro lado, no mercado global, as usinas que não têm mineração própria sofrerão o maior impacto nos custos”, analisou.

Demanda em alta – Da mesma maneira, o analista de investimentos da Terra Investimentos, Regis Chinchila, não acredita em grandes reduções da cotação internacional do insumo siderúrgico no curto ou médio prazos. Ele ressaltou que embora os preços estejam bem mais elevados que no início do ano, a demanda continua crescente.

“As usinas chinesas, por exemplo, que são as mais demandantes, continuam comprando porque o crescimento daquele país ainda é muito ancorado na infraestrutura e os estoques já não estão tão elevados”, citou.

Assim, também para ele, a relação entre oferta e demanda justifica a pressão nos preços. O especialista também lembrou a possibilidade de volatilidade da cotação, mas ressaltou o elevado atual patamar. A tonelada do minério de ferro encerrou o dia em US$ 122,5.

Valor deve estimular investimentos

MICHELLE VALVERDE

A expectativa em relação à retomada da mineração em Minas Gerais é positiva. De acordo com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, a elevação dos preços do minério de ferro será um importante estímulo para os investimentos do setor.

Segundo Roscoe, com a cotação do minério de ferro próximo dos US$ 120 por tonelada, os investimentos na exploração de minas de pequeno e médio portes se tornam viáveis, o que vai estimular a atividade. Outro ponto favorável, segundo ele, é a expectativa de retomada das atividades da Samarco em 2020.

“Acreditamos que vários projetos de mineração que não tinham viabilidade serão retomados devido à valorização do minério, mesmo minerando a seco. Esse retorno acontecerá, principalmente, em minas médias e menores, que são mais rápidas na obtenção de licenciamentos. Vamos ter um grande fluxo de entrada nos próximos 12 meses. Já os projetos maiores demandarão mais tempo. Também tem a estimativa de retomada da Samarco, que deve iniciar as operações entre julho e agosto do ano que vem”, explicou.

Assim, a tendência para os próximos anos é de recuperação da mineração no Estado. A atividade também deverá priorizar a mineração a seco, reduzindo os riscos de acidentes, como os rompimentos de barragens.

“Passada a turbulência do momento atual, a mineração começará a se recuperar. Claro, vai demorar alguns anos para retomar ao patamar anterior, mas acredito que estamos no fundo do poço e que a partir daqui teremos boas notícias. A atividade será mais voltada para mineração a seco, sem risco de barragens e, com isso, teremos uma atividade mais sustentável em Minas Gerais”.

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