EDITORIAL | Uma ameaça que se alastra

O sarampo, doença infecciosa que chegou a ser dada como erradicada no Brasil, volta a causar preocupações com o aumento do registro de ocorrências e tendo em conta que os doentes correm riscos graves. No ano passado, em todo o País, os casos registrados chegaram a 10 mil, com a propagação da doença atribuída principalmente à chegada ao País de imigrantes venezuelanos. Mas o problema é global e a Organização Mundial de Saúde (OMS) identificou, nos últimos dois anos, surtos em 170 países. O problema se torna mais grave na medida em que o sarampo tem altíssimo nível de propagação, facilitada pela maior movimentação de pessoas entre países e continentes.
No caso brasileiro, e no momento, o maior número de ocorrências foi registrado na cidade de São Paulo, com 363 casos comprovados e crescimento de 164% em apenas vinte dias. No Estado, o número de doentes chegava a 484 no início da semana, conforme indicação das autoridades sanitárias. O segundo Estado com maior número de casos é o Pará, com 54, e em Minas as ocorrências registradas chegam a 4. Um risco sério, que poderia ser eliminado facilmente com cobertura vacinal adequada, o que não acontece. Em São Paulo, apesar das campanhas realizadas e da disponibilização da vacina no sistema público de saúde, apenas 5% do público-alvo, estimado em 4,4 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos, foi vacinado.
Mesmo em países desenvolvidos, na Europa e Estados Unidos, existem pontos em comum assinalados pela OMS que atribui a resistência crescente à vacina e à disseminação de notícias falsas, largamente propagadas nas redes sociais. Também no Brasil autoridades médicas fazem avaliação semelhante, chamando atenção para o risco representado pela desinformação, que neste caso soa como uma espécie de regressão, porém com amplitude muitíssimo maior. Espanta e constrange que uma tecnologia que poderia ser usada para o bem, para aproximar pessoas, para promover o conhecimento, acabe sendo tão mal utilizada.
Um fenômeno que já alcançou a política, provocando distorções muito graves como, ao que tudo indica, o resultado do plebiscito que levou a Grã-Bretanha a deixar a Comunidade Europeia, além de eleições em diversos e importantes países, tudo isso fazendo das chamadas fake news uma questão contemporânea de consequências ainda imprevisíveis. Tudo isso sugere que, além de impositivo, é urgente a adoção de mecanismos de controle mais efetivos, o que não significa, como alguns alegam, interferir na liberdade de expressão. Bem ao contrário, trata-se de defender valores maiores que estão sendo aviltados e certamente representam grave risco.
Ouça a rádio de Minas