Saques do FGTS preocupam setor da construção

A divulgação das regras para o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Fundo PIS-Pasep, na última quarta-feira, e que deverá injetar na economia nacional cerca de R$ 30 bilhões em 2019, é vista com preocupação pelo setor da construção civil, que tem no FGTS uma das principais formas de financiamento na aquisição de imóveis. Por outro lado, apesar de um impacto menor que o esperado com as primeiras notícias da liberação dos recursos, no comércio varejista a opção de saque para os consumidores é avaliada como um novo fôlego para o setor, uma vez que vai garantir ao trabalhador um valor a mais que poderá ser utilizado na quitação de dívidas, investimentos ou em compras.
O governo federal autorizou o saque imediato de até R$ 500 por conta vinculada do FGTS neste ano. A partir de 2020, haverá a possibilidade de saques anuais.
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Geraldo Jardim Linhares Júnior, mesmo com a limitação de valores, a liberação dos saques pode impactar de forma negativa na construção civil. Isso porque os recursos são utilizados na aquisição de imóveis, com a liberação, a tendência é que ao longo dos anos, os valores sejam reduzidos o que irá comprometer a capacidade da população em adquiri imóveis.
“A autorização para sacar os valores do FGTS é prejudicial para o setor da construção civil e para a população, que deixará de ter uma reserva que é utilizada para a aquisição da casa própria”.
Ainda segundo Linhares, com a queda dos valores do FGTS, o setor deverá ser fortemente afetado, o que é ruim para a geração de empregos, renda e para a retomada da economia nacional.
“Estamos preocupados. Se o governo quer o desenvolvimento da economia, a única atividade que pode dar resultados rápidos é a construção civil, onde os trabalhos são praticamente artesanais e não temos processos robotizados como vistos em outros setores que, antes, geravam muito empregos, como as indústrias automobilísticas. O governo ainda não entendeu que o desenvolvimento passa pela construção civil. É a única indústria que pode gerar inúmeros empregos. A cadeia da construção civil representa de 10% a 12% do PIB nacional. A cada R$ 1 investido no setor da construção são gerados R$ 4 para o governo, em impostos”, explicou.
Comércio – Ao contrário da construção civil, o comércio avalia a liberação dos saques do FGTS como positiva. A expectativa é que o consumidor utilize os valores para pagamento de dividas, compras e investimentos, o que é favorável para o setor.
“Com as regras divulgadas pelo governo, que vai liberar o saque de R$ 500 das contas do FGTS em 2019, o impacto não será muito grande no curto prazo, mas, ainda sim, irá ajudar o comércio. O uso do recurso precisa ser planejado e a tendência é que os consumidores priorizem o pagamento de dívidas – voltando a ter acesso ao crédito – façam compras ou invistam”, explicou a economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Bárbara Guimarães.
A opção do saque anual também é positiva, uma vez que a liberação dos recursos ocorrerá mensalmente e de acordo com o mês de aniversário do trabalhador.
“O saque anual vai permitir a entrada de uma renda maior ao longo de todo ano, então o impacto, no longo prazo, será melhor”, disse Bárbara.
Para o economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Gilson Machado, o saque dos recursos, apesar de menores do que esperado, dará um fôlego ao comércio varejista, o que é importante para a melhora do desempenho do setor.
“Em Belo Horizonte, nós acreditamos que os saques do FGTS é uma forma de estimular o comércio. Em posse dos valores, os consumidores podem quitar dívida e voltar a ter acesso ao crédito. Também podem fazer investimentos ou compras, tudo isso estimula a economia e movimenta o comércio varejista”.
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