Opinião

EDITORIAL | Conversas fora de hora

EDITORIAL | Conversas fora de hora
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

A nenhum brasileiro é lícito ignorar os graves problemas que o País enfrenta no campo econômico, na política e na gestão pública, consequência previsível de erros e omissões que foram se acumulando ao longo de anos. É preciso agir, é preciso reagir, entendimento que, acredita-se, condicionou os resultados das eleições do ano passado. Sonhava-se com a nova política, com o mérito e, talvez sobretudo, com o compromisso público que pudesse livrar o País da corrupção.

A retórica continua apontando nessa direção, que ainda fundamenta esperanças e um ânimo mais positivo, mas é possível perceber que velhos hábitos, nocivos, ainda não foram banidos da vida pública. É o que se percebe quando o próprio presidente da República, que está completando apenas seis meses no cargo, anuncia que “pode” pleitear um segundo mandato em 2022, contrariando o que dissera em campanha. Bolsonaro não está sozinho, na realidade segue um padrão que se repete entre possíveis postulantes à mesma cadeira, da mesma forma que acontece nos governos estaduais, em Minas Gerais inclusive, com movimentos mais ou menos sutis.

Não se pode cobrar dos atuais mandatários muita coisa. A maioria chegou agora, muitos são novatos e quase todos podem dizer, sem o risco de exagerar, que receberam uma herança maldita. Tem muito que fazer e, a rigor, nenhum recurso. Qualquer gestor, na iniciativa privada, estaria, em condições equivalentes, preocupado em construir soluções de curto, médio e longo prazos, mas na política continua sendo diferente. A rigor não existem políticas permanentes, de Estado. Falta planejamento e sobra improvisação, enquanto o olhar para o futuro continua tendo data certa, precisamente as próximas eleições. Sobram ambições, que condicionam cada movimento, e faltam ideais.

Falta também, especialmente nas condições que se apresentam, senso de realidade, o que vale para os políticos e a sociedade em geral. Os primeiros se protegem, os demais cometem o gravíssimo engano de esperar que o Estado e seus agentes os acolham, têm, quase sempre, uma percepção bastante equivocada de direitos e quase nenhum entendimento do que possa ser responsabilidade. É possível acreditar que este seja precisamente o nosso verdadeiro e maior problema, aquele que explica todos os demais.

Resumindo, não é hora de falar mais uma vez em eleições, é hora de trabalhar, de cumprir o que foi prometido, de mudar o que precisa ser mudado, pondo fim a essa eterna corrida em torno de cadeiras. Precisamos, como ponto de partida, de menos ambições, abrindo dessa forma espaço para o mérito e para a construção que nunca começa.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas