BH tem maior nível de acesso cultural

Rodrigo Mitre *
O belo-horizontino está entre os brasileiros que mais consome e acessa cultura conforme a pesquisa “Cultura nas Capitais”, reconhecida pelo Ministério da Cultura e que ouviu 10.630 pessoas, acima de 12 anos de idade.
A capital mineira se destacou como a cidade com os melhores índices, abrigando os maiores frequentadores de atividades culturais diversas: livros com 70%; cinema, 64%; feiras de artesanato, 54%; shows, 53%; bibliotecas, 43%; festas populares, 42%; teatro, 41%; dança, 38%; museus, 38%; saraus, 20%; circo, 18% e concertos com 17%.
O levantamento estimula a reflexão sobre o papel e a importância da arte na sociedade contemporânea. O contato com espaços marcados por muitas cores, estruturas e imagens, por exemplo, estimula a imaginação, aguçando a curiosidade e servindo de bagagem para a criatividade.
Um exemplo disso na arte contemporânea está nos trabalhos envolvendo a interação dos visitantes. É curiosa a maneira como crianças e jovens lidam com a experiência, conseguindo as melhores reações possíveis.
Mas, o que é arte? Desde sempre, o homem vive um grande conflito por ser parte da natureza e, ao mesmo tempo, ser agente de interferência. É capaz de se comunicar, trocar ideias e de se organizar socialmente. Entende e influencia o mundo à sua volta através da ciência, filosofia, religião… E arte. Assim, consegue se expressar e propiciar inovações ao mundo.
Ao contrário de outros animais, o ser humano tem a capacidade de criar e modificar o espaço em que vive. E, em contrapartida, é modificado pelo meio ambiente. A cada vez que se coloca um novo elemento no mundo, também se reinventa e, exatamente nesse momento, um passo adiante é dado.
E a arte? A arte é o espaço para a celebração da capacidade de criar e esta criação não é um processo aleatório ou gratuito. Mesmo num trabalho aleatório e sem controle, como o do artista americano Jackson Pollock, o resultado do processo criativo é definido a partir da observação humana, da decisão e escolha se está pronto e acabado.
A partir de uma decisão, novos objetos são elaborados quando, em seguida, a percepção intelectual desses novos objetos transforma o artista. A experiência estética é necessariamente intelectual nas artes visuais. O objeto de arte transforma para melhor. O fato de criar e vivenciar a criação muda a percepção de mundo.
Para que essa capacidade de mudança individual aconteça, é preciso sair da zona de conforto. O ápice do conforto é a morte, pois não se sente frio, nem calor ou incômodo, pois o se está em estado completo de anestesia. Algumas experiências são capazes de tirar as pessoas da letargia, do condicionamento cotidiano e da morte. Esse gozo de viver é a beleza! A angústia faz o homem seguir. Por mais contraditório que possa parecer, ninguém quer ficar na zona de conforto.
Conviver com objetos de arte tira o indivíduo do lugar comum. Muitas vezes, incomoda, faz pensar, extrai o melhor e o pior das pessoas. Por outro lado, a arte mostra o olhar, o sonho, os desejos e tudo que o homem não pode verbalizar. Como diria Ferreira Gullar: “A arte existe porque a vida não basta”. A arte não é um mero objeto de decoração, sendo vital para a humanidade. A função insubstituível da arte é de transcender a natureza do homem e tirá-lo do lugar comum.
* Diretor da Galeria de Arte Periscópio
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