EDITORIAL | Eficiência, uma receita esquecida

Quem frequenta os gabinetes mais bem acarpetados de Brasília diz que os humores ali têm variado, situação ditada por algumas manifestações intempestivas do presidente da República, pelo fraco desempenho da economia e, na outra banda, pelos avanços no processo de aprovação da reforma da Previdência, que, segundo essas avaliações, foram além das expectativas mais otimistas. Quem passa por estes locais onde as informações mais precisas circulam, diz também que todos têm pressa, acreditam que a tarefa mais pesada foi cumprida e querem avançar, na esperança de não desiludir aqueles que esperavam mais em menos tempo.
Foi o caso, na semana que passou, da divulgação de uma primeira lista de estatais a serem postas à venda, numa rodada que incluiria 17 empresas. A estratégia era deixar o assunto de lado, enquanto se cuidava da delicada questão da Previdência e agora a ideia é injetar ânimo, mostrar que o governo se movimenta e, com certeza, para fazer caixa com a velocidade possível, já que os fracos resultados da economia não trouxeram o alívio que fazia parte da estratégia e das contas do Planalto.
Naqueles gabinetes mencionados no início desse comentário, tem gente que acredita que tudo que puder ser vendido deve ser vendido, não escapando sequer a Petrobras ou o Banco do Brasil. Como nem todos pensam dessa forma, a crença é de que elas serão poupadas. Quanto às demais, como a Eletrobras, seria conveniente pensar melhor. Ou simplesmente, usar a história e a memória porque exatamente o Estado brasileiro se transformou em produtor e distribuidor de energia elétrica. Simplesmente faltava quem assumisse a tarefa e, do lado estrangeiro, não se disfarçava a consciência de que se tratava de uma atividade estratégica, a ser dosada conforme as conivências deles e não as nossas.
Como já foi dito aqui, vender – nesse caso liquidar – a estatal que se ocupa de um trem-bala que não existe é impositivo e várias outras se encontram em condição semelhante. Ele não se aplica às empresas de saneamento, cujos bons resultados não passam, ou não deveriam passar, pela bolsa de valores. Não levar em conta tais detalhes é erro equivalente a desconsiderar por inteiro a possibilidade de que empresas estatais podem ser bem administradas, oferecer bons serviços e bons resultados. Pensar dessa forma é um atestado de incapacidade ou esquecer os bons momentos de empresas como a Cemig, a Usiminas ou a Embraer, que realizou o que parecia impossível. Com esses cuidados e com uma visão menos preconceituosa é perfeitamente possível chegar a bons resultados.
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