Sem infraestrutura e sem competitividade

Patrícia Herrera *
A situação geral de infraestrutura do País é mesmo motivo para o brasileiro se indignar. Afinal, ninguém paga impostos para transitar por vias e rodovias em condições precárias. O custo operacional dos veículos é impactado pelas condições do pavimento. O acréscimo médio estimado devido às condições das rodovias brasileiras é de 26,7%. A deficiência das rodovias reduz a segurança, aumenta o custo de manutenção dos veículos, além do consumo de combustível, lubrificantes, pneus e freios.
As razões para o cenário são inúmeras e já pautaram reflexões de especialistas dos mais variados segmentos. As mais recorrentes linhas argumentativas têm como fio condutor o fato de que o modal rodoviário – ou seja, o uso do transporte terrestre – é o mais utilizado no Brasil. E, claro, se não investimos no transporte ferroviário, como ocorre na Europa – e se o transporte aéreo ainda está fora da realidade da população em geral, há que se pensar em alternativas para melhorar custos e condições do que já desenvolvemos.
A 22ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, que avaliou mais de 107 mil quilômetros em todo o País, aponta que mais de 60% do transporte de cargas e mais de 90% dos deslocamentos de passageiros do Brasil são feitos por rodovias. O próprio órgão enfatiza que realizar fortes investimentos em infraestrutura de transporte é fundamental para oferecer segurança a motoristas, passageiros e pedestres e também para favorecer o desenvolvimento do setor e o crescimento econômico.
Segundo a Confederação Nacional dos Transportes, as condições gerais das rodovias brasileiras registraram uma significativa melhora na sinalização das vias, mas a situação do pavimento continua apresentando índices de deficiência na casa dos 50%. Essa deficiência, aliada a outros fatores, resultou em aumento médio do custo operacional do transporte de cargas no Brasil de 26,7% em 2018.
Novamente, o problema deixa de ser cenário de gestão e retoma a condição de custo para o cidadão. Afinal, se os custos relacionados à logística são majorados, o consumidor paga a fatura no sacolão, no supermercado e onde mais precise adquirir seus produtos. Sofrem também os empreendedores, que trabalham com preços menos competitivos em um cenário de baixo potencial de consumo gerado por desemprego e crescimento do trabalho informal.
Minha avaliação sobre esta questão é a mesma defendida pelo engenheiro Guilherme Ramos e de tantos outros estudiosos e empreendedores do setor: os investimentos em infraestrutura no País são muito pequenos frente à extensa malha rodoviária. Ramos é o diretor da Paving Expo e Conference, evento que acontecerá em São Paulo nesta semana e que coloca em pauta a situação das vias e rodovias do Brasil.
Antes de falar em necessidade de expansão, é preciso entender que rodovias são ativos, precisam de manutenção e quanto mais tardia, mais onerosa.
Sempre é bom lembrar que esse é um cenário em que ninguém ganha e que depende, sim, de vontade política. Mas o maior desafio é criar alternativas para reduzir os custos de construção e manutenção que democratizem a concorrência nas licitações públicas do setor, além de viabilizar tarifas mais baixas nas rodovias pedagiadas em todos os estados brasileiros.
*Engenheira mecânica e mecatrônica, Executiva da subsidiária da Moba no Brasil
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