Política

Bolsonaro contesta o crescimento de sua desaprovação

Bolsonaro contesta o crescimento de sua desaprovação
De acordo com pesquisa, 44% dos brasileiros não confiam na palavra de Jair Bolsonaro - Crédito: Antonio Cruz / Agência Brasil

Brasília – O presidente Jair Bolsonaro criticou pesquisa Datafolha divulgada ontem que apontou o aumento de sua reprovação, inclusive entre a população mais rica. Em entrevista, ao deixar o Palácio da Alvorada, ele questionou se alguém ainda acredita no instituto de pesquisa. “Alguém acredita no Datafolha? Você acredita em Papai Noel?”, questionou.

Na entrevista, em seguida, o presidente foi lembrado que, no início deste mês, ele mesmo falou em dados compatíveis do instituto em pesquisa à época sobre a rejeição ao garimpo em áreas indígenas.

“De vez em quando, quando a pesquisa não é politica, há uma tendência de fazer a coisa certa. Há uma tendência”, disse Bolsonaro ontem.

Mais tarde, Bolsonaro distorceu dados em uma nova crítica ao Datafolha, desta vez no Twitter. Ao postar uma imagem do site do PT com uma pesquisa feita durante a eleição, o presidente escreveu:

“Segundo o mesmo Datafolha que diz que eu seria derrotado se as eleições fossem hoje, eu perdi as eleições de 2018. Muito confiável!”.

O levantamento, porém, foi feito entre os dias 26 e 28 de setembro, cerca de uma semana antes do primeiro turno, e apontava crescimento nas intenções de voto do petista Fernando Haddad. Em um cenário de segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, ainda hipotético àquela altura da campanha, o petista teria 45% dos votos, enquanto o candidato do PSL obteria 39%.

Erosão – Pesquisa nacional feita pelo Datafolha aponta a erosão da popularidade de Bolsonaro em pouco menos de dois meses. A reprovação do presidente subiu de 33% para 38% em relação ao levantamento anterior do instituto, feito no início de julho, e diversos indicadores apontam uma deterioração de sua imagem. Foram ouvidas 2.878 pessoas com mais de 16 anos em 175 municípios.

A aprovação de Bolsonaro também caiu, dentro do limite da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos, de 33% em julho para 29% agora. A avaliação do governo como regular ficou estável, passando de 31% para 30%.

A perda de apoio de Bolsonaro também foi acentuada entre aqueles mais ricos, com renda mensal acima de dez salários mínimos. Neste segmento, a aprovação ao presidente caiu de 52% em julho para 37% agora – bastante significativa, ainda que se mantenha acima da média.

A pior avaliação do mandatário é entre os mais pobres, que ganham até dois salários mínimos (22%), os mais jovens (16 a 24 anos, 24%) e com escolaridade baixa (só ensino fundamental, 26%).

Na pesquisa de julho e na anterior, de abril, estava consolidado um cenário em que o país se dividia em três partes iguais: quem achava Bolsonaro ótimo ou bom, ruim ou péssimo e regular.

Radicalização – De dois meses para cá, o presidente viu aprovada na Câmara a reforma da Previdência, sua principal bandeira de governo. Ato contínuo, iniciou uma escalada de radicalização, acenando a seu eleitorado mais ideológico com uma sucessão de polêmicas.

Neste período, Bolsonaro sugeriu que o pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) havia sido morto por colegas de luta armada na ditadura, indicou o filho Eduardo para a embaixada brasileira em Washington e criticou governadores do Nordeste – a quem também chamou de “paraíbas”.

O último item coincide com a região em que mais disparou a rejeição a Bolsonaro. O Nordeste sempre foi uma fortaleza do voto antibolsonarista, mas seu índice de ruim e péssimo subiu de 41% para 52% na região de julho para cá.

Voltando ao corte regional, a disparada de rejeição no Nordeste é acompanhada também em áreas tradicionalmente bolsonaristas. A região Sul, por exemplo, teve um aumento de 25% para 31% entre os que avaliam o governo como ruim ou péssimo.

As mulheres seguem rejeitando mais o mandatário do que os homens: 43% delas o acham ruim ou péssimo, ante 34% dos homens.

Com tudo isso, Bolsonaro segue sendo o presidente eleito mais mal avaliado em um primeiro mandato, considerando Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Há outros indicativos dos motivos do azedume da população com o presidente, cujo governo ganhou nota 5,1 dos entrevistados. Nada menos que 44% dos brasileiros não confia na palavra do presidente, enquanto 36% confiam eventualmente e 19%, sempre.

O estilo presidencial, que o entorno de Bolsonaro tenta vender como autêntico e direto, não está lhe rendendo também boa avaliação.

É preponderante a percepção de que o presidente nunca se comporta conforme o cargo exige. Subiu de 25% para 32% o contingente que pensa assim – em abril, eram 23%. Já os que acham que Bolsonaro cumpre a liturgia do cargo caíram de 22% para 15%, ante 27% em abril.

Ao mesmo tempo, cai a expectativa sobre o governo. Acreditavam em abril que Bolsonaro faria uma gestão ótima ou boa à frente 59%. Em julho, eram 51% e agora, 45%. Na mão contrária, creem numa administração ruim ou péssima 32% – eram 24% em julho e 23%, em abril. (Folhapress)

Presidente garante que vai discursar na ONU

Rio de Janeiro – O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que vai discursar na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), mesmo que tenha que ir de cadeira de rodas ou de maca, para falar sobre a floresta amazônica, depois da grande repercussão internacional em consequência da elevação de queimadas na região.

Bolsonaro deve passar por uma cirurgia no próximo domingo para tratar uma hérnia relacionada a cirurgias anteriores, às quais foi submetido depois de ter sofrido um ataque a faca durante a campanha eleitoral no ano passado. O primeiro dia de debates de alto nível da Assembleia Geral da ONU, que tem o presidente do Brasil como primeiro chefe de Estado a discursar, acontece em 25 de setembro, pouco mais de duas semanas após Bolsonaro a data prevista para a operação.

“Eu vou comparecer à ONU nem que seja de cadeira de rodas, de maca. Eu vou comparecer, porque eu quero falar sobre a Amazônia, mostrar para o mundo com bastante conhecimento, com patriotismo, falar sobre essa área ignorada por tantos governos que me antecederam”, disse Bolsonaro em entrevista ao sair do Palácio da Alvorada ontem.

“Uma chance que eu tenho de falar para o mundo sobre a nossa Amazônia. Eu vou deixar essa oportunidade?”, acrescentou.

Bolsonaro também voltou a descrever como “esmola” as ofertas de ajuda financeira de países estrangeiros para a Amazônia. Na semana passada, o presidente já havia chamado de esmola uma ajuda de 20 milhões de dólares para a Amazônia anunciada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, na cúpula do G7.

“Ela (Amazônia) foi praticamente vendida para o mundo, eu não vou aceitar esmola de país nenhum do mundo a pretexto de preservar a Amazônia, mas, na verdade, está sendo loteada e vendida… O que eles querem é cada vez mais, ao demarcar mais terras, inviabilizá-las para nós”, afirmou.

O aumento das queimadas na Amazônia no mês de agosto provocou uma pressão internacional pela preservação da floresta sobre o governo brasileiro, que rebateu acusando países como a França de adotarem uma postura colonialista.

Governadores – A comitiva ministerial liderada pelo titular da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, recebeu ontem dos governadores dos estados da Amazônia Legal, na sua parte oriental, sugestões para combater o desmatamento e as queimadas ilegais. Os governadores discutiram também propostas para um plano de desenvolvimento sustentável da região. A reunião, em Belém, deu seguimento ao encontro dos governadores com o presidente Jair Bolsonaro, na semana passada, em Brasília.

“Na próxima semana, vamos processar todas essas demandas, que vão desde questões que envolvem a regularização fundiária, passam pelo zoneamento econômico-ecológico, pelos serviços ambientais, pela economia verde, que é uma preocupação relevante. Os ministros estão aqui, vão se preparar”, disse Onyx sobre a construção de um plano para a Amazônia. Na semana passada, Bolsonaro encarregou o ministro Onyx de dialogar com os governos estaduais e consolidar as demandas emergenciais e estruturais.

Hoje, em Manaus, a comitiva se encontra com os governadores dos estados da Amazônia ocidental. No dia 23 de agosto, Bolsonaro autorizou uma operação de Garantia de Lei e Ordem (GLO), que ganhou o nome de GLO Ambiental, para que as Forças Armadas atuem no combate aos incêndios na floresta amazônica. De acordo com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, na Amazônia oriental 4 mil militares já estão atuando junto com 400 agentes civis de combate ao fogo, com o emprego de quatro aeronaves e cinco helicópteros.

O Brasil também está na expectativa da cooperação do Chile, Equador, Estados Unidos e Israel. Ontem, segundo Azevedo, chegam duas aeronaves do Chile e mais duas virão em seguida; Israel e Equador estão mandando equipe especializada e os Estados Unidos estão em contato para saber como podem ajudar.

O governador do Pará, Helder Barbalho, destacou, após a reunião, a consolidação da lógica dos governos estaduais e federais na utilização dos recursos do Fundo Amazônia, programa de cooperação internacional para preservação da floresta.

“Está claro que o Brasil tem interesse em usar os recursos do fundo, apenas deseja liderar a construção de quais as ações, para que e como serão utilizados os recursos, respeitando a soberania e agenda do Brasil”, disse.

Helder Barbalho lembrou que os governos federal e estaduais aguardam a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes sobre a destinação de parte dos recursos de um fundo da Petrobras, criado para receber valores recuperados pela Operação Lava Jato, em acordo com os Estados Unidos, para o combate a queimadas e ao desmatamento ilegal na região. O fundo tem R$ 2,5 bilhões.

“Que sejam fonte de financiamento para a agenda que estamos construindo, de desenvolvimento e preservação da floresta”, defendeu.

De acordo com Barbalho, as ações e medidas discutidas ontem são importantes para compatibilizar as agendas de desenvolvimento e preservação e para que não haja necessidade de discutir, ano a ano, os problemas de avanço sobre a floresta. O governador defendeu a regularização fundiária e a assistência técnica e qualificação para “implementar a lógica de que não precisa desmatar para produzir”. (Reuters/ABr)

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