EDITORIAL | Mudar e não sair do lugar
A ideia da reforma da Previdência, uma discussão bastante antiga, foi apresentada, no governo passado, quase que como uma espécie de panaceia para todos os males. Ainda assim o processo emperrou, só avançando agora e, vale reconhecer, até além do que esperavam os mais otimistas.
Não tão otimistas a ponto de imaginar que estará tudo resolvido. Daqui para frente esta passa a ser a questão, focada, ao que é dito em Brasília em avanços na esfera tributária, no combate à burocracia e no andamento do programa de privatizações, por suposto a maneira mais rápida de se contornar os problemas de caixa.
E não são poucos os que defendem este caminho, não raro demonizando as estatais, apontando-as como fontes de todos os males, corrupção e ineficiência principalmente. Gente que imagina, com razão, um Estado leve, voltado exclusivamente para as tarefas que lhes são próprias.
Caberia indagar, de qualquer forma e como já fizemos, em que prateleira deveriam ser colocados os serviços de saneamento. Na dos negócios privados, voltados para o lucro, ou na esfera pública, em que os lucros seriam mais bem medidos pelos benefícios coletivos? Ou a energia elétrica, que deveria alimentar a eficiência e a competitividade das empresas, em alguns casos até com subsídios, ou os lucros que acabam sendo distribuídos, como se fosse vantagem, na Bolsa de Nova York.
Matéria de sobra para pensar e refletir sobre o que mais convém, tendo como métrica os interesses do País. E não é tudo. Fala-se muito também que acabar com os estatais – existem casos e casos – seria também a maneira mais direta de acabar com os cabides de emprego, com a ineficiência e com a corrupção. Inocência, má-fé ou mero engano.
Quem não soube de relatos recentes, sobre a venda de medidas provisórias para atender aos interesses de algumas indústrias? A corrupção, parece, assim como a ineficiência, não mede espaços e está entranhada também na esfera pública, infelizmente ainda distanciada de padrões mais rigorosos de ética e de mérito.
E estamos falando de atributos obrigatórios, que sequer deveriam estar em questão. Repetindo, é ilusório, é falso, imaginar que corrupção e ineficiência existem no Brasil simplesmente porque empresas estatais brotam do asfalto. Na realidade, é na órbita da política que ela medra e isto não será alterado mesmo que todas as empresas públicas sejam de uma forma ou de outra sepultadas.
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E nada disso impedirá que jatos do governo continuem voando com passageiros que não deveriam estar lá, ou que o apadrinhamento continue sendo um critério de seleção mais forte que a qualificação e o mérito. Pior, que políticos continuem mercadejando seu apoio e seus votos.
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