Evocações do meu passaporte (IV)
Cesar Vanucci*
“Buzinar atrás da gente é pior que xingamento de mãe.” (Frase de para-choque de caminhão)
O buzinaço é parte indissociável da rotina das ruas indianas.
Imaginem só a confusão possível de jorrar da cuca de um motorista da capital das Alterosas, em viagem pela Índia, já às voltas, de cara, com o sistema inglês de mão invertida no trânsito, diante das cenas urbanas atordoantes de um mar interminável de veículos, todos trazendo afixada no para-choque traseiro, ao jeito de convite, a frase: “Buzine, por favor”.
Aqui por nossas bandas, sabido é, a buzinação imoderada, juntamente com o despreparo do aguerrido time dos aplicadores de multas, concorre acentuadamente para a balburdia rodoviária detectada dia sim, outro dia também. Já manjaram o que não acabariam aprontando buzinadores inveterados da praça, com suas inopinadas agressões aos tímpanos das pessoas de bem e de paz, caso fosse liberado o emprego sem restrições do torturante instrumento? Igualzinho acontece na Índia debaixo de incentivos dos detrans locais?
Abra-se parêntese para ligeiro registro. Continuo falando desses infratores incorrigíveis das boas regras de convivência em nosso indisciplinado tráfego. Tempos atrás, passei para os distintos leitores informações acerca de uma teoria, danada de instigante, do professor Adamastor, cidadão com doutorado em Ciências Políticas pela Universidade de Kuala Lumpur. O autor sustenta, com convicção fervorosa, escorado em dados estatísticos e argumentos antropológicos, que todo buzinador compulsivo carrega consigo, enrustida na personalidade, irrecuperável inclinação pra troca de sexo.
Voltemos ao buzinaço indiano. Trata-se de mais um impacto, no país de todos os impactos sensoriais imagináveis e inimagináveis. Os sons nas ruas, praças, avenidas, travessas e rodovias da Índia são azucrinantes, tolerados com o maior estoicismo, como algo da mais banal normalidade, por motoristas, passageiros e transeuntes. Um bocado de gente se dá até ao luxo de equipar seus veículos com mais buzinas, cada qual com sonoridade, vale dizer estridência, característica. Todo mundo buzina o tempo todo, num “dialeto” que soa incompreensível em ouvidos leigos. Os ruídos lançados no ar anunciam intenções. Alertam sobre manobras cogitadas. Solicitam licença para avançar. Por aí vai. Não é uma buzinação em tom de bronca, ou de ameaça, como as daqui. É mais um aviso de chegada. Um pedido de permissão para ultrapassagem, emitido com “razoável polidez”.
Ao observador atônito sobram outras desnorteantes constatações: indiano não canta a pedra noventa na barafunda do trânsito. Fica difícil pacas entender uma coisa. A razão pela qual, no meio de tudo quanto narrado, os registros de abalroamentos de veículos se mostrem, em termos relativos, ao que se diz, consideravelmente reduzidos. Com certeira certeza, os melhores motoristas do mundo estão na Índia. E o pessoal da Fórmula 1 e Indi parece não haver se dado conta ainda disso…
Crise brasileira. Enfatizando que “toda crise é crise de percepção”, o empresário Maurício Roscoe, cidadão muitíssimo admirado pelas convicções humanísticas e pela capacidade empreendedora, encaminha-me sugestiva mensagem, que faço questão de compartilhar com os leitores. “A adoção de dogmas pré Keynesianos está levando o país a uma situação dramática. A de Minas é simples consequência. É um paradoxo inaceitável para quem observa a realidade e pensa com liberdade e independência, sem entraves de aprendizados acadêmicos: Estamos com enormes recursos reais ociosos ao lado de tanta coisa por fazer. O medo da inflação está nos paralisando.
Os Estados Unidos cresceram contínua e aceleradamente, desde 1933 a 1973, usando métodos Keynesianos. Hjalmar Schacht promoveu o crescimento da Alemanha até a 2ª guerra, usando métodos análogos. O Brasil teve seu crescimento, no período JK, também com recursos menos ortodoxos. Da mesma forma, no período do milagre, promovemos crescimentos de mais de 7% ao ano, otimizando o aproveitamento dos Recursos Reais. Estamos repetindo os mesmos erros das décadas perdidas dos anos 80, com desculpas parecidas, e que, paradoxalmente, nos levaram à hiperinflação. A pergunta é: de quantas décadas serão as novas décadas perdidas, até que a ficha caia?”
*Jornalista ([email protected])
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