EDITORIAL | Caixa-preta dos juros

Em 20 anos, a menor taxa de juros no País, o Banco Central anunciou a redução da taxa básica de juros (Selic) em 5,5% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada. Era o esperado. De um lado a inflação permanece abaixo do teto oficial, com tendência de baixa, e de outro a economia prossegue num quadro bem próximo da estagnação, distante ainda da tão esperada recuperação. De qualquer forma, um dado muito positivo e um sinal que ajuda a alimentar a confiança de investidores e empresários, em perceptível e confirmada recuperação.
Simplificando, quem enxerga dessa forma crê que as forças vitais da economia nacional permanecem contidas por conta do somatório de erros cometidos nos últimos anos, porém em condições de reagir muito rapidamente, desde que exista melhor previsibilidade para os negócios e, de fato, os agentes públicos passem a ser facilitadores e não mais o contrário.
O bom andamento, depois de prolongado atraso, da reforma da Previdência, é um sinal, assim como as perspectivas de que a reforma tributária, que de início deve significar simplificação, também finalmente caminhe, antecipando a reação tão aguardada.
Empresários que assim pensam lembram também que existe no País grande capacidade ociosa e, na ponta do consumo, demanda reprimida por conta da depressão da renda. Um impulso natural e que tende a acontecer, produzindo efeitos que podem ser rápidos e mais fortes que a maioria imagina. Quem não espera e não deseja que o barco afunde só pode entrar na torcida para que tais previsões sejam corretas. E nesse ponto cuidam de lembrar que disponibilidade de crédito em condições menos ortodoxas é outro dado essencial. E não basta comemorar que a Selic atingiu seu mais baixo nível, o que vale para os corredores do Banco Central, mas não se aplica ao mundo real, ao caixa dos bancos, onde os spreads praticados são a cada dia que passa menos justificáveis, além de continuarem pouco ou nada amigáveis na perspectiva de quem busca crédito.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
É preciso e urgente verificar o que acontece na ponta final do sistema, reconhecendo que as taxas de juros reais no País, sobretudo em tempo de ameaça de recessão internacional e vários países voltando a recorrer ao juro negativo para oxigenar suas economias, prosseguem extremamente elevadas e ainda são um desconvite a quem se imagine capaz de ajudar as rodas da economia a ganhar velocidade.
Abrir, finalmente, a caixa-preta que ajuda a explicar esta situação, que perdura por décadas, poderá ser o dado crucial para que os brasileiros voltem a enxergar o futuro.
Ouça a rádio de Minas