Opinião

EDITORIAL | Vender almoço e pagar jantar

EDITORIAL | Vender almoço e pagar jantar
CREDITO:ALISSON J. SILVA

A Cemig, nos seus 70 anos de vida, fez história, foi na realidade a grande responsável pelo ciclo de desenvolvimento econômico e social que Minas Gerais conheceu a partir da segunda metade do século passado. Nasceu, vale lembrar mais uma vez, para garantir suprimento de energia à Cidade Industrial de Contagem, que não era atendida pela concessionária estrangeira que atendia à região. Cumpriu este papel e, adiante, se transformou numa espécie de agência de fomento do Estado, participando diretamente da criação do Banco de Desenvolvimento, do então Instituto de Desenvolvimento Industrial e a Companhia de Distritos Industriais. Esse modelo foi o suporte do crescimento da economia regional, que já nos anos 70 alcançava as melhores marcas do País.

Um caso de sucesso que não se pode olvidar, principalmente tendo em conta que a estatal mineira foi o modelo e principal referência para a criação do sistema elétrico brasileiro, em que os padrões de eficiência e bons resultados se repetiram, ajudaram a sustentar o processo de crescimento do País, que também ganhou velocidade no final do século passado. Erros posteriores, de planejamento e de execução, ajudaram a comprometer os bons resultados anteriormente obtidos, apagando o conceito de energia abundante e barata, um dos suportes do avanço da indústria brasileira no período mencionado. O que veio depois todos sabemos.

No caso da Cemig, especificamente, duvidoso é concordar com a opinião daqueles que defendem que o Estado com os 17% que ainda possui na empresa, que poderia render algo próximo de R$ 3,4 milhões, menos do que seria obtido em três anos com dividendos. Assim entende o engenheiro Aloisio Vasconcellos, que foi presidente da Eletrobras, para quem a operação em estudo, se concretizada, representará prejuízos para o Estado, que perderia o controle de um setor vital, num retrocesso que significaria voltar à dependência do controle externo. Em entrevista a este jornal ele lembra que a Cemig tem apresentado bons resultados, promove um processo de descapitalização, porém sem perder, ou comprometer, seu valor essencial.

O engenheiro, reconhecido como um dos principais especialistas do setor elétrico brasileiro, também toca num outro ponto importante. Lembra que as empresas privadas ou que foram privatizadas, “todas elas sem uma única exceção”, aumentaram o custo da energia após a privatização. Perder o controle significa voltar a correr este risco, o que poderia representar um problema devastador.

É de se esperar que o governador Romeu Zema, mesmo enfrentando os problemas de caixa que enfrenta, perceba e avalie os riscos que sua decisão representa pata Minas Gerais.

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