Opinião

EDITORIAL | Sutilezas esquecidas

EDITORIAL | Sutilezas esquecidas
Crédito: Charles Platiau/Reuters

Basta observar. A dita diplomacia dos punhos de seda, marcante ainda no século passado, deu lugar ao pragmatismo, no geral fazendo de embaixadas e embaixadores a linha de frente do comércio internacional. Buscar investimentos, atrair negócios, comprar bem e vender melhor ainda passou a ser a receita, diferentemente do que parece pensar o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro das Relações Exteriores, ainda excessivamente apegados ao tom político e ao posicionamento consequente.

A propósito, cabe lembrar, em primeiríssimo lugar, no que pese o fato elementar de ser – ainda – o maior parceiro comercial do Brasil, que a China continua recebendo um tratamento que não corresponde à sua relevância, situação que embute risco de potenciais consequências negativas. Da mesma forma, e aí principalmente por questões geopolíticas, merecem referências à atitude nada amistosa com relação à Argentina e o erro estratégico de apostar abertamente em resultados eleitorais que as urnas não deverão confirmar. No caso específico, a regra de ouro da não interferência, que tradicionalmente marcou a diplomacia brasileira, parece ter sido rompida, também colocando em risco relações comerciais que são muito relevantes.

Também não se pode perder de vista a aparente – e ao que tudo faz crer absolutamente ilusória – intimidade com o presidente Trump, dos Estados Unidos, em que novamente regras elementares foram quebradas, com referências inapropriadas inclusive à política interna. Tudo isso precisa ser melhor compreendido pelo nosso presidente, que às vezes parece não se dar conta da importância e da liturgia própria da cadeira que ocupa. Se não do pragmatismo do presidente Trump, que fez do America first seu mais forte slogan e chegou a recomendar, numa desconcertante sinceridade, aos demais chefes de Estado que façam o mesmo no que toca aos interesses de seus respectivos países.

O jogo está suficientemente claro e aos que possam não ter entendido caberia lembrar, desculpas à parte, declarações de altas fontes do governo norte-americano na semana passada, dando conta de que apoiam a Argentina nas suas pretensões de ingressar na OCDE, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. E sem nenhuma referência ao fato de que o mesmo apoio, que pode ser decisivo, foi prometido por Trump diretamente ao presidente Bolsonaro em sua primeira visita oficial a Washington.

No caso, considerada a situação do país vizinho, um pragmatismo um tanto esquisito e que, fundamentalmente, deve ser tomado como alerta, quando menos para lembrar que também na diplomacia prudência nunca é demais.

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