EDITORIAL | Primeiro passo é uma jornada

O ministro Paulo Guedes esperava mais, embora certamente deva estar aliviado com o desfecho, esta semana, em votação no Senado, da proposta de reforma do sistema previdenciário. Ele propunha reduzir as despesas do sistema em R$ 1 trilhão em 10 anos e conseguiu R$ 800 bilhões, o que representa um alívio considerável, bastando para afastar o risco de um colapso que, sem as mudanças, era dado como inevitável nos próximos dois anos. Um avanço a ser comemorado por toda a população ou, pelo menos, pela parcela que sabe que não existe almoço de graça. A ser destacado, nesses primeiros comentários, o papel exercido pelo deputado Rodrigo Maia e pelo senador Davi Alcolumbre, cujo poder de articulação foi fundamental para o desfecho agora festejado.
São, todos eles, sinais positivos, bem refletidos no comportamento dos mercados de ações e de câmbio já na sexta-feira passada, tão logo conhecido o desfecho da cotação. Como foi dito e repetido, um primeiro e importante passo, talvez um dos mais difíceis, abrindo caminho para o conjunto de reformas que são essenciais à modernização da economia brasileira, recolocando-a no trilho do crescimento e, igualmente, da capacidade de inovar e competir, gerando riquezas que, melhor compartilhadas, poderão acelerar ainda mais todo esse processo.
A reforma tributária, mesclada com a efetiva implantação dos programas de simplificação e desburocratização, necessariamente está nessa agenda, na qual também continua sendo necessário abrir espaços para redução de gastos e melhoria na gestão. Algo mais próximo de um reequilíbrio fiscal consistente e duradouro, que para os investidores, em especial os estrangeiros, continua sendo apenas uma expectativa. O mesmo vale para a reforma política, a rigor posta de lado neste momento, e a reforma do Estado, já definido como gordo, pesado e caro, promotor de uma espécie de autofagia que consome a renda nacional, impedindo que o Estado cumpra seu papel mesmo em áreas tão críticas quanto educação e saúde, enquanto sua capacidade de investir fica reduzida praticamente a zero.
As comemorações desses dias, que por óbvias razões são justificadas, têm, portanto, também um sentido de advertência, inclusive para quem tem em conta o rol de tarefas que estão por ser cumpridas ou sabe que o alívio na Previdência é momentâneo, significando dizer que dentro de mais alguns anos as mesmas discussões poderão voltar à mesa das negociações, a menos que o processo de construção da racionalidade, que é muito mais amplo, tenha prosseguimento e seja exitoso.
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