Planejamento financeiro

Cássio Bambirra *
Ao mesmo tempo em que a democratização dos investimentos – especialmente por meio das plataformas digitais, que ampliaram o acesso das pessoas a vários tipos de aplicações – é positiva, esse movimento tem provocado a falsa impressão de que o correto trabalho no mercado financeiro seja somente o de alocar recursos, em busca de mais rentabilidade. No entanto, para alcançar o melhor retorno para cada investidor, é necessário delimitar estratégias: entender o seu momento de vida e a sua atual situação financeira, quais as suas pretensões futuras e também planejar a proteção e a sucessão patrimonial.
São esses os principais pontos aos quais qualquer profissional da área deve, obrigatoriamente, atentar-se no momento de elaborar estudos e sugestões para os clientes. Entretanto, percebe-se que isso nem sempre é feito. Ou, quando acontece, frequentemente não corresponde à real necessidade do aplicador. Em boa parte dos casos, o investidor, por estar inseguro, deixa de compartilhar as informações necessárias ao assessor, para que ele possa sugerir o planejamento financeiro adequado ao seu perfil de investimento.
Adicione a esse contexto a baixa educação financeira, em média, dos brasileiros. Assim, nos deparamos com um cenário complexo: um mercado em amadurecimento, tanto para investidores, quanto para assessores, aliado a uma inundação de ofertas, em diversos tipos de aplicações, cada qual com objetivos, propósitos e consequências distintas. Por fim, muitas pessoas estão alocando seus patrimônios financeiros em alternativas que não, necessariamente, solucionam suas demandas e garantam tranquilidade e conforto em relação a temas como herança, proteção e planejamento futuro.
Uma das causas disso é o viés imediatista da nossa sociedade. De modo geral, tem-se uma baixa percepção do horizonte de longo prazo, seja para planejar a vida ou os investimentos. Em contrapartida, estamos observando uma completa mudança de paradigma no mercado, o que exige do investidor uma nova postura diante do risco e do retorno. Só, então, ele terá tranquilidade para focar em suas atividades-fim (empregos, empresas ou até mesmo lazer).
Um estudo da Kadima Asset Management, elaborado há um ano, ajuda a comprovar o equívoco dessa conduta atual e reforça que montar uma boa estratégia de investimentos é tarefa “bastante difícil, em que poucos têm êxito”. A análise refere-se à tentativa dos brasileiros de “operar cota” de fundos e acertar o melhor momento de aplicar ou resgatar. Entre os resultados obtidos, um deles chama mais a atenção: enquanto a Taxa Interna de Retorno (TIR) ponderada dos fundos foi de 12,41% ao ano, a TIR global dos investidores ficou em 10,99%. Ou seja, anualmente são destruídos 1,26% de retorno pelo velho erro de “aplicar na alta e resgatar na baixa”. Além disso, em poucos casos, as aplicações e resgates conseguiram adicionar valor aos recursos aplicados.
A conclusão da Kadima é de que, no momento de alocar ou resgatar um ativo, faz muito mais sentido “analisar fatores, como qualidade da equipe de gestão, continuidade dos negócios, processos de investimentos e controles de risco”. Em outras palavras, deixar-se influenciar por resultados de curto prazo não é uma boa opção. Para que o investidor consiga atingir seus objetivos, a percepção de longo prazo e o entendimento correto das estratégias de alocação são fundamentais.
Sendo assim, é saudável que todos busquem ter cada vez mais conhecimento sobre as oportunidades do mercado financeiro. Isso é importante para que compreendam melhor as suas opções de aplicação e, principalmente, entendam as competências e controles de riscos dos gestores de fundos aos quais confiam sua carteira. Além disso, os investidores devem exigir de seu assessor de investimentos uma atuação que, efetivamente, observe essas questões e oriente o cliente, sempre com foco no planejamento para o futuro.
* Sócio da One Investimentos
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