Turismo

Óleo no litoral não afeta vendas de pacotes de viagem

Óleo no litoral não afeta vendas de pacotes de viagem
Fragmentos do óleo que já atingiu o litoral de toda a região Nordeste | Crédito: Divulgação/Agência Petrobras

O óleo que – misteriosamente – se espalha pelo litoral da região Nordeste desde setembro tem efeitos também sobre Minas Gerais. Agentes de viagem, embora não tenham registrado baixas expressivas no nível das reservas para a temporada de alto verão, têm tido mais trabalho para fechar as vendas.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem de Minas Gerais (Abav-MG), Alexandre Xavier Brandão, a repercussão foi mínima e não houve impacto econômico sobre o setor em Minas Gerais.

“As notícias são mais alarmantes do que a realidade. Temos uma rede de presidentes da Abav ativa no Nordeste que todos os dias atualiza as informações. Não temos tido interdições nas praias. Para os clientes que chegam com alguma dúvida temos respostas imediatas. Esse verão deve alcançar os resultados projetados antes dessa questão do óleo começar”, afirma Brandão.

Turistas que tinham antecipado as compras, especialmente para as festas de fim de ano, buscaram informação e chegaram a pedir cancelamento de reservas na Master Turismo. De acordo com a gestora de lazer da rede mineira, Débora Mendes, o maior impacto aconteceu quando as manchas alcançaram o litoral Sul da Bahia nas últimas semanas.

“Quem já tinha comprado nos procurou atrás de informação. Alguns chegaram pensando em cancelar, mas isso acabou não acontecendo. Estamos em contato diário com nossos fornecedores, Arraial d’Ajuda e Porto Seguro já estão com as praias limpas. A liberação das visitas em Abrolhos também é um ponto positivo”, explica Débora Mendes.

Novos destinos – Enquanto o problema não é solucionado de vez, quem ainda não fez a reserva está pesquisando mais e retardando a decisão. Destinos como as praias do Sul do Brasil, como Florianópolis e Balneário Camboriú, estão conquistando boa parte dos turistas que não querem correr riscos no Nordeste.

“As vendas têm sido mais consultivas e tivemos até uma pequena baixa na busca pelo Nordeste. As pessoas, porém, não deixam de viajar. As praias do Sul estão mais procuradas. Uma outra opção pela qual perguntam bastante é o Caribe. O problema nesse caso é a cotação do dólar, que tem feito muita gente desistir”, destaca a gestora de Lazer da Master Turismo.

Há 20 anos no mercado e há dois à frente da agência Flyworld do bairro Sagrada Família (região Leste), o empresário Roberto Lima também tem tido um pouco mais de trabalho ao tirar dúvidas dos consumidores e esperar mais um pouco para fechar a venda de pacotes para o Nordeste. Ainda assim, poucas pessoas têm trocado de destino.

“Temos feito o acompanhamento através dos nossos fornecedores e também com os clientes que estão lá. Todos têm narrado uma situação mais tranquila do que tem aparecido na mídia e ninguém voltou reclamando. É certo que estão perguntando mais e alguns consultando sobre as praias do Caribe. Já as praias do Sul do Brasil, que são mais baratas, não agradam muito aos mineiros por terem as águas frias. Um destino, talvez, surpreendente que tem despontado nesse verão é Foz do Iguaçu (PR), também pela questão da água”, pontua Lima.

Região da Reserva Biológica de Comboios foi afetada

Fragmentos do óleo que já atingiu o litoral de toda a região Nordeste e a costa norte do Espírito Santo foram encontrados ontem (13) em mais uma praia capixaba.

O novo trecho poluído por pequenas porções de óleo fica na praia de Regência, na cidade de Linhares – município onde, no último fim de semana, locais de desova de tartarugas ameaçadas de extinção já tinham sido atingidos. No dia 12, porções de óleo também foram encontradas próximo à foz do rio Doce, no Espírito Santo.

Segundo a prefeitura de Linhares, pequenas porções da substância oleosa poluíram a região da Reserva Biológica de Comboios, na praia de Regência, a 120 quilômetros ao norte de Vitória. A informação foi confirmada pelo gestor da unidade de conservação, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Antonio de Pádua Leite.

Além de ser sede de uma comunidade que vive principalmente da pesca, o distrito de Regência atrai turistas e muitos surfistas.

De acordo com o secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Naturais, Fabrício Borghi Folli, militares do Exército que estavam de prontidão na região já começaram a limpeza da faixa de areia e, junto com servidores do instituto, estão percorrendo a praia para saber a extensão da área afetada.

Litoral tem trechos de difícil acesso – “As equipes estão em campo, coletando o material e monitorando [a situação] com o apoio do Exército”, disse Folli, explicando que, além de extenso, o litoral tem trechos de difícil acesso. Além disso, a chuva que atingiu a região nas últimas horas dificulta o trabalho de limpeza.

“Linhares tem o maior litoral do Espírito Santo, com cerca de 86 quilômetros. Algumas praias são urbanizadas, frequentadas, enquanto outras são quase que desertas, de difícil acesso. Estamos monitorando todo este extenso litoral. Em todas as praias já foram detectados fragmentos do óleo”, declarou o secretário.

Biólogo, Folli disse ainda não poder dimensionar as consequências da contaminação para a fauna e a flora da região. “A probabilidade é que, tanto a vida marinha quanto a terrestre, estejam sofrendo algum tipo de consequência, mas eu ainda não posso afirmar isso porque ainda não conseguimos precisar”, disse.

Lamentando o potencial impacto negativo para a economia local, o secretário lembrou que há quatro anos a cidade já sofre com os prejuízos socioambientais causados pelo rompimento da Barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana (MG), ocorrida em novembro de 2015. “Ainda estamos avaliando os impactos dos rejeitos de minério de ferro que chegaram às nossas praias e sofremos mais este golpe. Estamos muito preocupados porque esta é uma situação socioambiental muito grave”, declarou Folli, revelando que alguns hotéis e pousadas de Linhares já registram o cancelamento de reservas de hospedagem. “Não é o momento de histerismo, mas é um sinal de alerta”, afirmou.

O secretário garantiu que, junto com equipes do Projeto Tamar e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), os servidores municipais têm adotado as precauções necessárias para preservar os ovos depositados por tartarugas marinhas nas praias de Linhares.

“Uma das nossas primeiras ações foi identificar e minimizar os possíveis impactos sobre os locais de desova destes ninhos. Todo o litoral de Linhares, principalmente a região de Comboios, onde fica a reserva biológica, tem sido objeto deste cuidado. As equipes não utilizam maquinário pesado para evitar o atropelamento ou o soterramento de ninhos, o que dificulta o trabalho das equipes, que têm que avançar a pé”, comentou Folli, estimando que, daqui a cerca de 20 dias, os primeiros filhotes de tartarugas devem começar a nascer e avançar pela areia em direção ao mar.

Contenção – Para tentar minimizar os efeitos negativos do óleo cru sobre o ecossistema da região, a prefeitura de Linhares e as autoridades estaduais e federais discutem o fechamento da foz do rio Doce, em Regência. A medida temporária visa evitar que o material poluente atinja e contamine o estuário local – onde o rio encontra o mar -, e está sendo discutida com o Ibama.

Além disso, a prefeitura solicitou ao governo estadual 1.300 metros de barreiras de contenção, 800 metros de rede Bidim (manta com elevada porosidade) e 1.800 metros de redes de malha (pesca), que devem ser instalados em pontos estratégicos da foz. (ABr)

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