Economia

Reforma trabalhista não gera empregos previstos

Reforma trabalhista não gera empregos previstos
Estímulo às contratações era um dos principais objetivos da reforma, que estimava chegar a 6 milhões de novos postos - Crédito: Amanda Perobelli / Reuters

A reforma trabalhista, que completou dois anos este mês, trouxe modificações nas relações de trabalho, porém, o principal objetivo, que era gerar cerca de 6 milhões de empregos no País, não foi alcançado.

A crise econômica nacional é um dos principais fatores que impediram a criação de postos de trabalho. Para estimular novos empregos, meta que não foi alcançada pela reforma, o governo lançou a MP do Emprego Verde e Amarelo, que tem como objetivo estimular a geração de novos postos de trabalho, principalmente, para jovens que não possuem experiência, através da desoneração da folha.

De acordo com especialistas, dentre os pontos positivos gerados desde a implantação da reforma trabalhista, em 2017, estão a redução do número de processos, a possibilidade de negociação de acordos para demissão e para condições de trabalho, como o parcelamento das férias, por exemplo. Além disso, a contratação intermitente, que já era praticada informalmente, passou a ser regulamentada.

De acordo com o economista-chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Guilherme Almeida, os efeitos provocados pela reforma trabalhista ficaram muito abaixo das estimativas projetadas pelo governo.

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“O governo estava com uma expectativa muito grande de que seriam geradas milhões de vagas de empregos, mas uma geração mais intensa foi impedida pelo cenário econômico. A lei, por si só, não tende a gerar empregos, é preciso estimular essa criação de vagas. Mas enfrentamos alguns entraves, seja no âmbito político ou econômico, que impedem a retomada da confiança do empresário, que, sem segurança, não investe”, disse Almeida.

O advogado trabalhista Vítor Nogueira de Oliveira, do escritório Grebler Advogados, explica que um dos principais objetivos da reforma era o estímulo às contratações, que poderiam chegar a 6 milhões no País, porém, o número alcançado é bem inferior, ficando abaixo de 1 milhão de novas oportunidades desde a implantação.

“A geração de empregos ficou muito distante da projetada pelo governo. Não podemos dizer que a reforma fracassou, seria muito precoce, porque a economia está em processo de recuperação. Não se sai de uma recessão tão severa como foi a dos anos de 2013 a 2016 de uma hora para outra e se passa para um crescimento astronômico. Parte da não geração dos empregos projetados tem relação com o reaquecimento lento da economia, que é natural pelo que o País passou”, explicou Nogueira.

Falta de informação – Além do cenário econômico desfavorável, a insegurança e a falta de informação, principalmente dos empresários de micro e pequenas empresas em relação às novas leis trabalhistas, também inibem as contratações, principalmente, na modalidade intermitente.

“A insegurança em saber se pode ou não contratar, se é legal ou não, o que é mais adequado para o investimento, faz com que muitos empresários, por despreparo, não façam as contratações”, explicou o representante da Fecomércio-MG, Guilherme Almeida.

De acordo com o advogado Vítor de Oliveira, a falta de conhecimento da nova legislação trabalhista faz com que empresários percam oportunidades interessantes, que poderiam contribuir para a redução dos custos e aumento da produtividade nas empresas. “O empresário precisa investir na assessoria jurídica para conhecer as leis e ter um direcionamento correto para o melhor caminho e as melhores oportunidades”, disse.

MP surge como alternativa para empregabilidade

A geração de vagas abaixo do esperado com a reforma trabalhista e o alto índice de desemprego fez com que o governo federal lançasse, na última semana, a MP do Emprego Verde e Amarelo. Com a MP, a expectativa é estimular a abertura de vagas para jovens sem experiência no mercado de trabalho através da redução de encargos.

“A reforma trabalhista não foi suficiente, e o governo fez uma minirreforma trabalhista. A MP vem para complementar, trouxe a redução de vários encargos e custos para contratações e manutenção de empregados”, disse o advogado trabalhista Vítor de Oliveira.

O economista-chefe da Fecomércio-MG, Guilherme Almeida, explica que a MP é importante e veio para estimular a contratação de jovens de 18 a 29 anos, cuja taxa de desemprego é de 26%, frente a 12% da média de desempregados.

“Em termos de estímulos, a MP é positiva. São jovens sem emprego, saindo da faculdade e de cursos técnicos, que, tendo custo menor para contratação, poderão ser opção para os empresários ampliarem a mão de obra a um custo menor”, explicou Almeida.

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Legalização de intermitentes diminui informalidade

As recentes reformas propostas pelo governo federal são consideradas importantes por focarem em problemas estruturais – como a insegurança jurídica em relação às contratações e questões relacionadas à produtividade e ao âmbito fiscal, previdenciário e tributário -, que travam a competitividade do Brasil em relação ao cenário econômico. Mas no caso da trabalhista, aprovada ainda no governo anterior, um dos principais avanços foi a legalização do trabalho intermitente.

“Algumas modalidades, como a contratação intermitente, que já ocorria no mercado informal, foram formalizadas. Foi uma medida muito importante, uma vez que os empregos formais tendem a gerar mais produtividade, porque o trabalhador recebe mais capacitação e treinamento”, explicou o economista-chefe da Fecomércio-MG, Guilherme Almeida.

Apesar de não alcançar os números almejados, a reforma, mesmo que de forma mais branda, permitiu a geração de empregos. Segundo Almeida, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Caged, no ano até setembro de 2019, no País, incluindo todas as modalidades de contratação, indicam geração de cerca de 700 mil novos postos de trabalho.

“O número é maior que o gerado em 2018 inteiro. Quando avaliamos desde a instituição da reforma, de novembro 2017, até setembro de 2019,  em termos  de criação, os intermitentes – que são uma nova modalidade – abarcam 12% das vagas criadas no período (962 mil). A reforma tem uma contribuição, mas, o peso maior  da geração de empregos virá da recuperação da economia”, explicou Almeida.

De acordo com o professor do curso de Direito do Ibmec-BH, Flávio Monteiro, outro impacto positivo promovido pela reforma trabalhista foi a redução dos processos.

“A reforma não conseguiu promover a recuperação de empregos, mas teve um impacto grande na redução dos processos trabalhistas. Com as novas regras, houve uma diminuição de 40% no número de novas ações trabalhistas na parte do direito do trabalho”, disse Monteiro.

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