Opinião

EDITORIAL | Uma decisão de alto risco

EDITORIAL | Uma decisão de alto risco
Resultado do PIB no segundo trimestre foi o melhor registrado para o período desde 2013, quando a economia avançou 2,3% - Crédito: Divulgação

Nas últimas décadas, numa conta que, como referência, partiria do final dos anos 80 no século passado, o Estado brasileiro perdeu a capacidade de investir e, na mesma proporção começou a definhar. Uma situação que só não foi pior e bem mais grave porque neste mesmo período o agronegócio acumulou níveis de crescimento bastante expressivos, certamente evitando o pior diante de um processo de desindustrialização que alcançou justamente a parcela mais dinâmica da economia, aquela capaz de agregar valor à produção e à massa salarial, com empregos de mais qualidade, além de estimular a inovação e avanços que, se constantes, sustentariam o processo de crescimento e os avanços qualitativos da economia local, hoje basicamente suportada por commodities agrícolas e minerais, de baixo ou nenhum valor agregado.

Mudar para avançar, tomando o melhor caminho, exige escolhas e na direção oposta do que é anunciado, sob o argumento de que é preciso abrir a economia, derrubar barreiras e forçar uma competição impossível, o que significa dizer que a economia nacional, no sentido do valor que é capaz de produzir, corre riscos de continuar regredindo. Estamos falando da anunciada intenção de redução unilateral de tarifas e impostos incidentes sobre importações de manufaturados. Um caminho em tese positivo, porém, feito na hora errada, inclusive quando se observa o ambiente externo, que sugere exatamente o contrário.

Como disse o presidente da Federação das Indústrias de Minas, Flávio Roscoe, refletindo entendimento comum a seus pares, na prática o Brasil está abrindo mão de defender os interesses de sua economia, de suas empresas, e desiste de conquistar fatias importantes nos mercados mundiais e, no extremo, nada mais faz que entregar seu próprio mercado aos produtos estrangeiros, com os quais ainda não tem condições de competir. E prossegue o presidente da Fiemg: “Atualmente, 22,4% dos produtos consumidos no País são importados, assim como 27% dos insumos utilizados pela indústria nacional.

Esses dados não indicam apenas fragilidade e dependência, são sintomas também de evidente empobrecimento, além de uma clara regressão que vai aos poucos eliminando os ganhos obtidos a partir da segunda metade do século passado e permitiu aos brasileiros, um dia, acreditar que estavam se aproximando do mundo desenvolvido. Livre comércio tem um sentido de igualdade que, evidentemente, não existe no caso e o que se pretende fazer terá impacto dramático sobre a tão esperada retomada do crescimento e da oferta de empregos.

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