Opinião

EDITORIAL | Desequilíbrio é estrutural

EDITORIAL | Desequilíbrio é estrutural
Crédito: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Temos procurado lembrar, sempre que a oportunidade se apresenta, que os problemas enfrentados pelo País, no que toca à economia, dizem  respeito a desajustes que se acumularam ao longo do tempo – muito tempo –, fundamentalmente implicando em gastos excessivos, situação que provocou um déficit que não tem como ser sustentado por muito tempo mais. No atual governo a equipe econômica, à frente o ministro Paulo Guedes, demonstra ter consciência da realidade e vem atuando, ou pelo menos propondo, medidas que obedecem à lógica da realidade, ainda que esbarrem na lógica do corporativismo e da soma de interesses daqueles que pelo menos fingem acreditar que são ganhos são legítimos ou, talvez mais apropriadamente, à importância de que julgam ser portadores.

Mantidas estas condições, mantidos os velhos hábitos que nos contam, por exemplo, que o antigo e dito abandonado “toma lá dá cá”, parece voltar a ganhar força em Brasília, se é que algum dia realmente perdeu força, funcionando como cimento das relações entre poderes e, portanto, da frágil governabilidade que ajuda a barrar avanços mais concretos e, claro, também essenciais para que o País reencontre seu rumo. São dúvidas por óbvio relevantes o suficiente para explicar por que continuamos sendo vistos, de fora para dentro, como a terra das oportunidades que se perdem, ou não são aproveitadas, justamente pela falta de confiança. Condição que teríamos de volta, diziam muitos políticos, com as mudanças que viriam uma vez consumado o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

São questões que vêm à lembrança a propósito da divulgação de resultados de levantamentos de uma consultoria, não contestada, cabe destacar, e apontando que o salário médio dos funcionários do Judiciário foi, no ano passado, de R$ 12.774.02, ou 420% maior que a média do que foi pago, no mesmo período, aos trabalhadores do setor privado, estimada em exatos R$ 2.456,65. No Legislativo, segundo a mesma fonte, a média ficou em R$ 6.371,87, bem menos mas ainda assim quase três vezes mais que os ganhos médios na área privada.

Tal desproporção, suficiente para demonstrar que não vai exagero algum no conceito de sequestro da renda nacional, representa também um desequilíbrio e uma injustiça que não poderiam ser tolerados. E apontam, ao mesmo tempo, o rumo das correções que obviamente se impõe e sem as quais as chances de reequilíbrio continuarão sendo remotas. Da mesma forma que crescem as chances de que a situação não tenha como ser sustentada por muito tempo mais, argumento suficiente para sensibilizar os que ainda defendem que tudo continue como está.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas