EDITORIAL | A integração chega ao fim

A virada do mês representará, este ano, para os europeus, muito mais que mudança rotineira no calendário. Nesta sexta-feira chega ao fim, depois de 47 anos, a permanência da Grã-Bretanha na Comunidade Econômica Europeia, fato cujas extensas implicações não podem ainda ser avaliadas, mas, tudo faz crer, em nada beneficiará as populações que vivem de um lado e de outro do Canal da Mancha. Foram precisos quase três anos, desde o plebiscito de junho de 2016, para chegar a este momento, na realidade quase que simbólico. A aliança está rompida, o país que representa a quinta maior economia mundial deixa o bloco, mas começa um período de transição que vai até o final do ano, durante o qual na prática não acontecerão mudanças relevantes.
Muda o estado de espírito, aumenta a insegurança com relação aos efeitos diretos, seja no cotidiano das pessoas, seja na economia ou na política, aumentam sobretudo os riscos de que este venha a ser um sinal de que o processo de integração, tão desejado no passado e tão necessário, comece a ruir, já que diversos outros países já deram sinais de que podem seguir o mesmo caminho. E sem se dar conta de que os próprios britânicos estão divididos com relação à questão e, para muitos, estão na realidade arrependidos. Afinal, parece claro que não têm nada a ganhar e podem perder muito com o isolamento que estão se impondo.
Problemas de circulação de pessoas e de mercadorias são, por enquanto, os mais evidentes, sendo óbvio que do ponto de vista econômico as facilidades geradas pela integração, mesmo que a Grã-Bretanha tenha sido o único dos países membros que preferiu não aderir ao euro e manter sua própria moeda, a libra esterlina, desaparecerão. Além dos negócios, numa escala maior, isso implica, por exemplo, que um cidadão francês ou de qualquer outro país continental não terá mais direito de trabalhar na ilha, da mesma forma que os britânicos não poderão trabalhar, ou residir sem que cumpram uma burocracia que já não existia no Continente.
Nada disso parece fazer sentido se a análise ignorar a política pequena, o jogo de poder que levou a este resultado, enquanto a maioria da população, chamada a opinar, permanecia indiferente, muitos sem se dar ao trabalho sequer de voltar. Pior, o resultado, até certo ponto inesperado, pode ter sido contaminado pelas redes sociais, utilizadas para envenenar o processo a partir de mentiras e falsidades. Foi o primeiro caso percebido de algo que vai se transformando em perigosa rotina.
Quando os britânicos se deram conta, era tarde demais para voltar atrás, para apagar a decisão provavelmente equivocada, além de manipulada. Agora só resta esperar quais serão os próximos capítulos.
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