EDITORIAL | Uma promessa sempre adiada

As contas públicas federais, em que apenas o serviço da dívida custa mais de R$ 300 bilhões/ano, continuam muito distantes do desejável e necessário equilíbrio. Dito dessa forma, verifica-se que o ajuste fiscal, um dos pretextos para o impeachment da presidente Dilma Rousseff e apontado como ponto de honra para a gestão de seu substituto, prossegue, apesar também das promessas do presidente Bolsonaro, muito mais no terreno das ideias que próximo de ações concretas ou, antes, de uma mudança de atitude, de comportamento diferente diante do erário.
O “cortar na própria carne”, dito e repetido por cada um dos ocupantes do Palácio do Planalto desde a redemocratização e do surgimento de uma República que se dizia nova, ainda não foi além das intenções e, ao contrário, no período considerado, os gastos públicos cresceram sem qualquer controle ou justificativa, numa virtual apropriação do Estado brasileiro pelos políticos e pelas corporações que os cercam. E estamos longe dos tempos em que as ditas “mordomias” reservadas aos palacianos encontravam seu melhor símbolo nos carros oficiais, de onde veio a expressão “chapa branca” para rotular tais desvios. Disso nem se fala mais, mesmo que sejam gastas fortunas para renovar as frotas de automóveis de luxo reservados às excelências dos Três Poderes. Hoje as “mordomias” voam mais alto e a jato. Literalmente.
Levantamento da Força Aérea Brasileira (FAB), que opera a frota de jatos que servem às autoridades com direito a transporte exclusivo – reservado a ministros, presidentes da Câmara, Senado e Supremo Tribunal Federal, comandantes das Forças Armadas e presidente e vice-presidente da República –, registra 72 voos nacionais e 8 internacionais atendendo ministros de Estado em 2019. Não está registrado o custo desses périplos nem o seu propósito, mas é bastante recordar palavras do presidente Jair Bolsonaro ao demitir o chefe interino da Secretaria Executiva da Casa Civil, que voou da Suíça à Índia num jato da FAB para se incorporar à missão brasileira em visita àquele país. Para o presidente da República, e com absoluta razão, o funcionário poderia perfeitamente ter viajado em avião de carreira e sua aventura, mesmo que legal, foi classificada como imoral.
Tudo isso na mesma semana em que, no México, o presidente López Obrador anunciava que o jato presidencial, já desativado, será rifado. Este sim, poderá dizer que cortou na própria carne.
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