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Ibovespa recua após Fed anunciar corte nos juros

Ibovespa recua após Fed anunciar corte nos juros
Comentário do chairman do Fed, Jerome Powell, após corte emergencial de juros nos EUA azedou humor do mercado | Crédito: Kevin Lamarque/Reuters

São Paulo – O Ibovespa caiu nessa terça-feira (3) em uma sessão volátil, marcada por decisão extraordinária do Federal Reserve de cortar juros nos Estados Unidos (EUA) devido ao surto de coronavírus, com o chairman do banco central norte-americano alertando que o vírus representa um risco material para as perspectivas econômicas.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,02%, a 105.537,14 pontos. O volume financeiro somou R$ 34,5 bilhões.

Após uma manhã sem tendência definida, o Ibovespa chegou a subir 2%, logo após o Fed anunciar corte dos juros em 0,50 ponto percentual, para uma meta de 1% a 1,25%, em decisão unânime e seu primeiro corte de juros emergencial desde a crise financeira de 2008.

“O coronavírus apresenta riscos crescentes para a atividade econômica. À luz desses riscos e em apoio ao cumprimento de suas metas de máximo emprego e estabilidade de preços, o Comitê Federal de Mercado Aberto decidiu reduzir a meta” para a taxa de juros, afirmou o Fed em comunicado.

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As bolsas em Nova York também reagiram com ganhos à decisão, mas o clima azedou na sequência, em meio a comentários do chairman do Fed, Jerome Powell, citando mudança no balanço de riscos e que é necessária uma resposta multifacetada para proteger as economias dos efeitos do vírus, que, segundo ele, não estão aparecendo nos dados ainda.
Participantes do mercado chamaram atenção para o timing, pelo fato de o Fed não ter esperado seu encontro neste mês.

“O Fed adiantar esse corte, ainda mais tendo reunião em duas semanas, sugere que a situação é bem pior do que parece”, disse o gestor de uma empresa ligada a previdência complementar.

Na mínima da sessão, após a fala de Powell, o Ibovespa chegou a 104.404,82 pontos.

Cortes à vista – Na visão da equipe do Bank of America, o Fed deve promover outros cortes ainda no juro, sendo o próximo de 0,25 ponto na reunião já agendada para 17 e 18 deste mês, e outro similar em abril. “O Fed parece comprometido em antecipar os cortes, agindo de forma agressiva e vigorosa”, destacou em nota a clientes.

Investidores têm reagido com fortes vendas nos mercados acionários globais, desde o final de fevereiro, à rápida disseminação do novo vírus para outros países além da China, entre eles os Estados Unidos, em razão de temores sobre o impacto negativo na economia mundial. No Brasil, tal cenário pode atropelar uma amplamente aguardada retomada econômica.

O Goldman Sachs cortou ontem sua projeção para a expansão do PIB brasileiro em 2020, de 2,2% para 1,5%, bem como de outros países da América Latina, citando expectativa de impacto significativo no crescimento global, um número crescente de infecções por Covid-19 na região e condições financeiras mais difíceis dado o aumento da aversão ao risco e dos prêmios.

Dólar – A moeda norte-americana subiu pela décima sessão consecutiva ante o real ontem, fechando acima de R$ 4,50 pela primeira vez e batendo o nono recorde nominal seguido, em um dia de grande volatilidade nos mercados globais.

O dólar à vista encerrou em alta de 0,54%, a R$ 4,5109 na venda, com folga deixando para trás a máxima recorde para um encerramento de R$ 4,4868 alcançada na véspera. Pelo menos desde março de 2002, o dólar não sobe por dez sessões consecutivas. Na série atual, a moeda acumula ganho de 4,88%. (Reuters)

Estados Unidos reduz juros para proteger economia

Washington – O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) cortou a taxa de juros ontem, em uma medida de emergência, com o objetivo de proteger a maior economia do mundo do impacto do coronavírus, enquanto autoridades financeiras do G7 prometeram ações “apropriadas” sem especificar quais.

Em comunicado, o Fed disse que estava cortando os juros para uma meta de 1,00% a 1,25%. A decisão foi unânime. “Os fundamentos da economia dos EUA permanecem fortes. No entanto, o coronavírus apresenta riscos crescentes para a atividade econômica”, afirmou o Fed em comunicado.

O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, disse que o corte de 0,5 ponto percentual não era o suficiente.

A decisão do Fed de cortar a taxa de juros antes de sua próxima reunião, marcada para 17 a 18 de março, reflete a urgência com a qual o Fed sente que precisa agir para evitar a possibilidade de uma recessão global.

Há mais de 90 mil casos em todo o mundo do novo coronavírus, dos quais mais de 80 mil na China, e infecções aparecendo em 77 outros países e territórios, sendo a Ucrânia o último país a relatar seu primeiro caso.

Os ministros das Finanças do G7 estão prontos para agir, inclusive com medidas fiscais quando apropriado, disse o ministro das Finanças do Japão, Taro Aso. Os bancos centrais continuarão sustentando a estabilidade de preços e o crescimento econômico.

“Nós reafirmamos nosso compromisso de adotar todas as medidas políticas apropriadas para proteger a economia dos riscos negativos apresentados pelo coronavírus e que estamos prontos para cooperar ainda mais com medidas oportunas e eficazes”, garantiu Aso após um telefonema do G7.

Ele não especificou uma solução e disse que a resposta de política monetária desejável vai variar de país para país.

Questionado sobre se todas as medidas apropriadas incluiriam tanto de política monetária quanto fiscal, Aso disse: “Sim, tudo será incluído, tanto medidas monetárias quanto fiscais”.

Mais “alívio” – Trump disse no Twitter que o Fed precisa aliviar ainda mais os juros para “se alinhar a outros países/concorrentes”. “Não estamos jogando em igualdade de condições. Não é justo com os EUA. Finalmente chegou a hora de o Federal Reserve LIDERAR. Mais flexibilização e redução!”, tuitou.

O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, aplaudiu a medida “não política” do Fed e disse a um comitê da Câmara dos EUA que os ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais do G7 concordaram em “fazer todo o possível” para limitar os danos econômicos.

Ele disse que os Estados Unidos não estavam considerando reduzir tarifas sobre produtos da China depois de uma guerra comercial contundente com a segunda maior economia do mundo, mas que analisariam todas as opções.

Os mercados de ações globais foram tomados por negócios voláteis e os preços do ouro subiram mais de 2% após a mudança do Fed.

As ações globais despencaram na semana passada com temores de que a interrupção das cadeias de suprimentos, na produção industrial e nas viagens globais causada pela epidemia possa causar um duro golpe para uma economia mundial que tenta se recuperar da guerra comercial EUA-China.

Na China, os novos casos de coronavírus estão caindo drasticamente, com 125 registrados ontem, graças a medidas agressivas de contenção. (Reuters)

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