Sistema de apanhadores de Minas ganha título de patrimônio agrícola mundial

A partir de agora, o sistema dos apanhadores de sempre-vivas integra o seleto grupo dos Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (Sipam).
Isto porque a tradição centenária das comunidades da Serra do Espinhaço, no Jequitinhonha, acaba de ser reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) como patrimônio agrícola mundial. É o primeiro reconhecimento dessa natureza no País e o quarto na América Latina.
A entrega da certificação aconteceu ontem, em Brasília, com a presença de representantes dos apanhadores de flores e autoridades. O objetivo da FAO, com o selo, é valorizar populações que preservam métodos seculares de manejo da terra e mantêm, dentro de seu habitat, relações sustentáveis com o meio ambiente.
“Hoje, nosso País está sendo reconhecido, pela primeira vez, com um patrimônio da agricultura mundial. Esse patrimônio foi construído nas montanhas de Minas. São práticas e conhecimentos únicos. Vocês são os guardiões da biodiversidade”, destacou a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina.
Quem dedicou toda vida à atividade garante que a conquista é motivo de orgulho. É o caso de Jovita Maria Corrêa, 62, que aprendeu o ofício com os pais e ensinou tudo aos filhos. Ela espera, agora, que as próximas gerações mantenham a tradição. “A ‘panha’ das flores sempre-vivas me ajudou na criação dos meus 11 filhos. Espero que também ajude os meus netos”, disse.
Para Maria de Fátima Alves, uma das coordenadoras da Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas (Codecex), o reconhecimento valoriza o esforço de famílias inteiras da região do Espinhaço. “A gente já nasce fazendo isso e vamos muito cedo para o campo, junto com a família. Eu mesma comecei com 8 anos. É fantástico ver essa premiação, saber que esse processo agora tem importância para Minas, para o Brasil e para o mundo”, comemorou.
Abrangência – Ao todo, 1.500 pessoas, distribuídas em seis comunidades, serão diretamente beneficiadas. Entre elas estão Pé de Serra e Lavras, situadas no município de Buenópolis; Vargem do Inhaí, Mata dos Crioulos e Macacos, localizadas em Diamantina; e, ainda, o povoado de Raiz, em Presidente Kubitschek.
A expectativa é de que, com a chancela internacional, esses lugarejos passem a ter mais visibilidade e, por consequência, ganhos com o turismo e com a economia. Para a secretária de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Ana Valentini, o selo vai chamar a atenção para a necessidade do envolvimento de todos na preservação dessas comunidades e da rica cultura que elas carregam através de gerações.
“Estamos muito otimistas quanto aos benefícios que o reconhecimento da ONU trará para toda a comunidade envolvida, principalmente para aquelas pessoas que vivem essa realidade de campo, com muita dificuldade, e que têm no extrativismo da sempre-viva sua fonte de renda”, afirmou Ana Valentini.
Representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala explica que os sistemas de patrimônio agrícola são caracterizados pela combinação de quatro elementos: biodiversidade, ecossistemas resilientes, conhecimento tradicional e herança cultural. “Depois de ter conhecido o trabalho destas apanhadoras de flores sempre-vivas, há um quinto elemento que incluo como muito importante: a dignidade das mulheres rurais”, pontuou.
Outro ponto importante, segundo o presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Gustavo Laterza, são os esforços que vêm sendo direcionados para o programa Sistemas Agrícolas Tradicionais (SAT) da Serra do Espinhaço.
“Prestamos atendimentos junto às comunidades rurais e aos povos tradicionais, levando apoio técnico e construindo soluções para criar oportunidades. Vale destacar as agendas de produção sustentável, agroecologia, saneamento rural, segurança hídrica e bovinocultura”, afirma Laterza. (Com informações da Agência Minas)
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