VIVER EM VOZ ALTA | Eduardo Seabra Fagundes

Rogério Faria Tavares*
Com muita honra, pertenço, desde 2012, ao Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), uma das instituições mais antigas do País, fundada em 1843, ainda no tempo do Império. Acredito na importância de entidades dessa natureza, sobretudo pelo seu poder de promover causas úteis à coletividade, como tem feito o instituto, há tantas décadas.
Entusiasmado, logo me animei a pesquisar a sua trajetória, decisiva, entre outras coisas, para a criação da OAB, o que só ocorreria em novembro de 1930. Para realizar a minha intenção, recorri ao método preferido pela maioria dos jornalistas que se atrevem à investigação histórica: a memória oral.
Já havia feito o mesmo no plano estadual, quando colhi os mais de 30 depoimentos que deram origem ao livro publicado pouco tempo depois: “Contribuições para a história do Instituto dos Advogados de Minas Gerais”. Nele, o leitor encontra entrevistas com expoentes do direito em nosso Estado, como Aristoteles Atheniense, Isabel Vaz e José Anchieta da Silva e com outros que já nos deixaram, como Adhemar Ferreira Maciel, Jorge Lasmar e Ricardo Arnaldo Malheiros Fiúza, querido confrade na Academia Mineira de Letras.
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Em relação ao IAB, no entanto, decidi inovar, gravando as entrevistas não só em áudio, mas também em vídeo, recurso que enriquece bastante o trabalho e que voltei a usar em livro posterior, sobre o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Estive com todos os ex-presidentes da instituição, entre os quais juristas famosos, como o mineiro Theófilo de Azeredo Santos (por muitos anos o presidente da poderosa Febraban), Benedito Calheiros Bonfim, Hermann Assis Baeta, Marcelo Cerqueira, Fernando Fragoso e Técio Lins e Silva.
O livro “Contribuições para a história do Instituto dos Advogados Brasileiros” foi lançado na sede da entidade, no Rio, em 2016, na presença de praticamente todos os entrevistados. Lá estava, para minha grande alegria, um dos que mais me impressionou, pelo vigor de suas palavras: Eduardo Seabra Fagundes, que infelizmente acabou falecendo em novembro de 2019.
A conversa com Eduardo se deu em junho de 2014, na própria sede do IAB, entidade que ele presidiu entre 76 e 78, e resultou em depoimento histórico. Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, entre 79 e 81, o filho de Miguel Seabra Fagundes atuou com firmeza em favor do Estado Democrático de Direito e das liberdades públicas. Por conta de tal militância, foi perseguido e ameaçado, mas não se deixou intimidar.
Há 40 anos, em agosto de 1980, uma carta-bomba endereçada ao seu gabinete, na sede da OAB no Rio de Janeiro, acabou sendo aberta por sua secretária, dona Lyda Monteiro da Silva, que morreu na hora.
Sobre o episódio, transcrevo trecho do relato inesquecível de Seabra: “A bomba foi acondicionada num envelope de correspondência postal. Dona Lyda, então com 60 anos, trabalhava na OAB desde os 15. Era já uma senhora, avó. Uma pessoa muito eficiente. Quando abriu o envelope, ele explodiu na mão dela. Acabou com a sua sala. A parede entre a sala dela e a minha caiu, a mesa dela foi destruída. O braço dela caiu do lado de fora, na marquise do prédio. Foi algo brutal”. As reflexões de Seabra sobre o episódio, entretanto, desanuviaram o clima tenso e triste da entrevista, abrindo espaço para a esperança: “Protestamos. Exigimos providências. Fizemos o que nos cabia fazer: resistir”.
*Jornalista e presidente da Academia Mineira de Letras
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