IDEIAS | Gestão para bons resultados no campo

Benjamin Salles Duarte*
Os estabelecimentos agropecuários somam 5,073 milhões no Brasil, e 3,897 milhões de estabelecimentos são enquadrados como sendo da agricultura familiar e respondendo por 76,82% do total recenseado no País. Em Minas Gerais, dos 607.448 estabelecimentos, 441.829 mil são familiares e representam 72,72% desse universo mineiro pesquisado, segundo o Censo Agropecuário 2017. No País, a agricultura familiar ocupa 10,1 milhões de pessoas ou 67% do total de 15,036 milhões (IBGE).
São cenários com seus desafios e oportunidades na lógica dos mercados, pesquisa agropecuária, assistência técnica privada, extensão rural pública, conjuntamente com produtores rurais, quando se aborda a gestão para resultados econômicos, sociais, e ligados aos recursos naturais.
Não há como subestimar a missão da agricultura familiar, no que lhe compete, no somatório dos esforços produtivos nas culturas e criações, que reúnem também os médios produtores e os empresários rurais!
Segundo o Censo Agropecuário 2017, em Minas Gerais no Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária a agricultura familiar respondeu por; 55,89% na horticultura; 75,71% na extração vegetal; 68,42% na produção de mandioca; 49,78% na produção de leite de vaca.
Segundo a Emater-MG, estimam-se que podem ser enquadrados como familiares; 50% dos horticultores; 68% dos fruticultores; 84% dos apicultores; 60% das propriedades que cultivam o café; e respondem por 70,8% do VBP do café. O Censo Agropecuário de 2006 acusava 167.153 produtores de leite considerados como familiares (74,9%) do total de 223.076 em Minas Gerais (IBGE), uma referência, até novos dados! O estado lidera a cafeicultura!
Além disso, é bom recordar que os pesquisadores Eliseu Alves, Geraldo Souza e Renner Marra (Embrapa), com base no Censo Agropecuário de 2006, revelaram que dos 4,4 milhões de estabelecimentos agropecuários recenseados no Brasil, à época, apenas 27,3 mil (0,62%), com mais de 200 salários mínimos de renda bruta mensal, responderam por 51,2% do Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária em 2006 (IBGE). Concentração, o que não excluem, por consequência, nem os agricultores familiares e nem os médios produtores nesse País continental!
O pesquisador Eliseu Alves alerta para a necessidade de reduzir as imperfeições de mercado que ainda discriminam a pequena produção, pois compram caro os insumos e vendem barato o que produzem!
Assim, num cenário continental, pode-se avaliar a complexidade que envolve a tomada de decisão no campo nas suas singularidades econômicas e de mercados, onde dezenas de condicionantes precisam ser acessadas para fundamentarem as atividades agropecuárias tracionadas pelos mercados!
Embora ainda não haja uma pesquisa abrangente e confiável, presume-se que fora as médias e grandes empresas do agronegócio, que exigem maiores investimentos, planejamento exemplar e gestão eficiente para bons resultados, não era de hábito e tradição para a maioria dos produtores rurais, salvo exceções, exercitarem o controle de suas despesas e ganhos.
E mais, se os produtores rurais avaliarem a produtividade econômica nas culturas e criações, renda bruta e renda líquida. Vale também ressaltar o cenário estadual em 1949; havia 265.559 estabelecimentos rurais, dos quais 158.542 abaixo de 50 hectares (59,7%); a população rural mineira somava 5,49 milhões de habitantes (70,2%); a urbana, 2,32 milhões (29,8%), totalizando 7,81 milhões de habitantes no Estado (IBGE). Minas Gerais era rural. A Acar foi fundada em dezembro de 1948; e houve uma reversão demográfica; hoje, 85% vivem nas cidades!
Além disso, é preciso registrar que pioneiramente no Brasil as modalidades de crédito rural, principalmente o supervisionado, habitacional, orientado e juvenil permitiram, como ferramentas de extensão rural, à época, uma radiografia considerável das propriedades rurais assistidas direta e regularmente pelos extensionistas da Acar/Emater-MG. No período entre 1949 e 1966, por exemplo, o retorno bancário do crédito rural supervisionado foi em média 99,79%, com a aplicação, a preços correntes, de Cr$ 1,278 bilhão. Não deixava de ser uma “gestão para bons resultados há 70 anos.”
Portanto, as memórias do campo e sua gente laboriosa não podem ser perdidas, e elas também ajudam a explicar o desempenho vigoroso do agronegócio brasileiro, reconhecido mundialmente, e dinamizado após a metade da década de 1970, a medida em que o Brasil era um grande importador de alimentos, até de feijão vindo do México!
Contudo, nessa sequência, não implica afirmar que os controles nas atividades rurais seriam zero, uma hipótese presumível sem fundamento e lógica, e subestimando até a capacidade do produtor em conduzir os seus negócios, porém, via também experiências vividas e acumuladas ao longo de muitas décadas nas artes de plantar, criar, comprar, vender e pagar!
No entanto, configurava-se uma contabilidade prática circulando nos estabelecimentos rurais, não raro. Exemplos: quantas sacas de milho para comprar uma tonelada de fertilizantes? De quantas vacas leiteiras um bom ordenhador manual poderia dar conta diariamente? A venda de um bovino compraria quantas bezerras?
Evidentemente que não resolviam tudo dessa forma, mas ajudavam no entendimento de como desenvolver seus negócios agropecuários. Mesmo assim, permanece ativa e atual uma questão de fundo no aperfeiçoamento dos processos e decisões compartilhadas no campo, que possam contribuir na geração de ganhos de produção, produtividade, qualidade e lucratividade!
Assim posto, cenários complexos, é de se esperar que os “Centros de Inteligência” públicos e privados nos domínios das Ciências Agrárias desenvolvam pesquisas e soluções cerca das plataformas digitais simplificadas, eficientes e operacionais, sem relegar os produtores familiares, que contribuam à tomada de decisões nas relações custos/benefícios. A posse da internet se multiplica nos estabelecimentos agropecuários, e nas moradias urbanas dos produtores rurais! O mundo na ponta dos dedos!
Segundo o Censo Agropecuário 2017, em Minas Gerais 200,47 mil estabelecimentos agropecuários já estão conectados à internet e 1,43 milhão no Brasil, entre banda larga e internet móvel. Por acréscimo, ainda 3,64 milhões de estabelecimentos agropecuários brasileiros (71,8%) não têm acesso à internet.
Evidentemente, no mundo da economia globalizante, políticas agrícolas, crédito rural, mercados e adoção de tecnologias explicam o crescimento do agronegócio brasileiro; na lógica a tomada de decisão é conjuntural, e dependerá cada vez mais do acesso à informação e às boas práticas rentáveis nas culturas e criações! Para os produtores familiares e médios; estimular as formas de associativismo e cooperativismo, indispensáveis!
Resumindo: nos processos mudanças não basta somente gerar a inovação; é preciso sintonia com os mercados; escalas de ofertas; adoção; lucratividade na gestão para bons resultados em níveis de estabelecimentos agropecuários em MG, e no Brasil!
*Engenheiro agrônomo
Ouça a rádio de Minas