EDITORIAL | Limite da insanidade

Decisões cruciais, do isolamento social efetivo à compra de vacinas, foram retardadas ou mal aplicadas e, pouco mais de um ano desde a confirmação dos primeiros casos de Covid-19, o número de mortos no Brasil passa de 260 mil. Pior, os dados disponíveis indicam que o processo de contaminação continua num patamar muito elevado, tendência que pode se manter ou até piorar, enquanto a progressão da vacinação continua sendo insuficiente.
Preocupação para o Brasil, para os países vizinhos e, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), ameaça potencial para o planeta. O pito do diretor-geral da entidade, Tedros Ghebreyesus, veio acompanhado da advertência de que o país tem que levar muito a sério sua atual condição sanitária, adotando medidas mais ágeis e mais agressivas.
Embora a mais recente pesquisa de opinião aponte que, para 74% da população, a administração pública não está fazendo o melhor, o presidente da República, de quem se espera voz de comando, prossegue num comportamento que já não cabe definir como simples negacionismo.
É pior, muitíssimo pior, quando ele continua se comportando como se nada de relevante estivesse acontecendo, dá mau exemplo com seu desleixo com relação às medidas preventivas, como o uso de máscaras, e continua favorecendo aglomerações que são de evidente risco. E tudo isso se refletindo, no campo da gestão da pandemia, em providências de baixa eficácia.
Quem primeiro deveria ser exemplo faz exatamente o contrário, o que talvez ajude a explicar por que muitos se comportam com absoluta irresponsabilidade e risco, desprezando cuidados tão elementares quanto o uso de máscaras ou participando de aglomerações que escapam à razão, num processo de alienação também alarmante.
Eis porque, depois de um ano, estamos regredindo, correndo riscos que tendem a ser, infelizmente, ainda maiores. Nada, enfim, que autorize o presidente da República, como fez na semana passada em Goiás, mais uma vez ignorando protocolos do próprio Ministério da Saúde, afirmar que “nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e mimimi. Vão ficar chorando até quando?”
O luto em respeito a mais de 260 mil brasileiros vítimas da Covid, se não o instinto de sobrevivência, definitivamente não permite a ninguém colocar a questão nesses termos. Menos ainda aceitar que seja tudo que o presidente da República tenha a dizer.
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