EDITORIAL | O caminho mais longo

Em evento promovido esta semana pela Associação Mineira de Municípios, reunindo prefeitos e vereadores de todo o Estado, o governador Romeu Zema defendeu que se construa no País um novo pacto federativo, tendo como um dos pontos de destaque a valorização e autonomia dos municípios. Eis um tema que, de fato, merece ser bem discutido, diante da inversão de valores que se acentuou durante a ditadura, visando seu fortalecimento. Trata-se, em resumo, de restabelecer o equilíbrio cuja ausência compromete a própria democracia, além de afetar muito negativamente a gestão pública. Mas alcançar o objetivo pretendido não será tarefa fácil.
Em primeiro lugar, porque a gestão federal, hipertrofiada, não renuncia a seu status e poder, a começar do controle dos recursos públicos, fazendo com que Brasília pareça ter herdado a instituição imperial do beija-mão, levando à peregrinação constante de governador, prefeitos e vereadores, todos de chapéu na mão, mendigando verbas ou favores. Segundo, porque nessa evidente desordem a própria política se deteriorou, perdeu qualidades e valores, não sendo difícil imaginar o que poderia acontecer se a políticos da espécie do deputado paulista que cometeu desatinos em recente viagem à Ucrânia, fosse confiada a tarefa.
O que o governador mineiro pretende na realidade remete a uma outra questão, bastante antiga, que ajudou a construir o cenário triste em que vivemos mas que não muda exatamente porque este passo à frente significaria perda de influência e outras coisas mais exatamente por quem deveria cuidar da matéria, apontando caminhos. Em resumo, não nos parece nada difícil entender que o pacto proposto deveria ser consequência, ou desdobramento natural, da reforma política que vem sendo postergada há 40 anos, então apontada como desdobramento natural e previsível da redemocratização.
Para os donos do poder, para os velhos políticos que não se abalaram com a mudança de regime e, como anteriormente, foram os primeiros a aderir e reclamar os ventos da democracia, mudar de verdade absolutamente não interessa, sendo preferível que a reforma tantas vezes prometida permaneça engavetada, enquanto pequenas mudanças apenas asseguram que tudo permaneça como está. Não é preciso apontar ou comentar os resultados dessa inércia, berço acolhedor também para a corrupção, para gastos esbanjadores e a incompetência como padrão.
Estas são as reflexões realmente essenciais, à medida em que ficam mais próximas as eleições de outubro. Seja qual for o resultado, é muito triste concluir que, quando muito, mudarão as aparências.
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