Safra mineira de grãos deverá bater o recorde

O clima favorável para a safra de grãos em Minas Gerais está contribuindo para uma nova produção recorde. Conforme os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Estado deve colher 17,1 milhões de toneladas de grãos em 2021/22, volume que supera em 11,4% a safra anterior. A safra 2022, entretanto, já sente os impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Com o aumento de cerca de 20% no preço do petróleo nos últimos 30 dias, as cotações de insumos, como os fertilizantes, já reagiram. Entre os produtos, neste ano, o milho já acumula alta de 24,5% nos preços internacionais, a soja, 30%, trigo, 45,5%, e algodão, 10,6%.
A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, que deixará a pasta ainda neste mês, participou do anúncio de ontem do 6º Levantamento da Safra de Grãos 2021/2022.
O superintendente de Inteligência e Gestão da Oferta da Conab, Allan Silveira, explica que a guerra entre Rússia e Ucrânia impacta o preço do petróleo, que é estratégico e aumentou muito nos últimos 30 dias, cerca de 20%.
“O aumento do preço do petróleo tem impacto no mercado agrícola, nos grãos e insumos, como os fertilizantes. Em relação à cotação dos produtos no mercado internacional, no caso do milho, que tem a Ucrânia como quarto maior produtor mundial, o preço do cereal já avançou 24,5% este ano. A soja aumentou 30% e o trigo – commodity muito afetada já que os países têm produção relevante – aumentou 45,5%. O algodão subiu 10,6%, mas as incertezas em relação ao crescimento mundial e da renda arrefeceram a valorização da pluma”, destacou.
Ainda segundo Silveira, no mercado futuro, os preços da soja, milho, trigo e algodão estão em níveis elevados, mas há uma expectativa de correção. “O mercado futuro projeta, a partir de agora, uma correção dos valores, claro que o mercado está muito instável. O que se tem hoje, para médio e longo prazos, é uma tendência de queda, mas não tão forte. Somente para o algodão é esperada retração mais significativa”, disse.
Em relação aos custos, a Conab apresentou o percentual de participação dos fertilizantes nos custos para as culturas de soja, milho e trigo. De acordo com o estudo, atualmente a participação destes produtos fica dentro de uma margem entre 30% e 40% nos custos variáveis, a depender da região produtora e do produto analisado.
O gerente de Custos de Produção da Conab, Rodrigo Souza, explica que é importante ressaltar que este percentual contempla os valores praticados até fevereiro deste ano. O conflito entre Rússia e Ucrânia, por sua vez, teve início no final do mês passado. Com isso, o impacto, tanto nos preços recebidos pelos produtores como nos valores pagos pelos insumos, será melhor mensurado a partir das apurações a serem realizadas ao longo deste mês.
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior, cerca de 22% dos fertilizantes importados no último ano tiveram como origem a Rússia, seguida da China, com 15%, e do Canadá, com 10%.
“Qualquer aumento nos preços de fertilizantes impacta de maneira significativa os custos para os produtores, que tendem a influenciar as cotações dos produtos finais disponibilizados ao consumidor. Mesmo com essa elevação nos valores de comercialização do grão, as margens bruta e líquida para os agricultores seguem uma tendência de queda, dada a dificuldade de repasse entre a produção e o varejo”, explicou.
Maior produtividade puxará crescimento
No que se refere à produção, Minas tende a colher na safra 2021/22 17,1 milhões de toneladas, avanço de 11,4% sobre a safra anterior. O aumento é reflexo da recuperação da produtividade, que está 6,8% maior, com rendimento médio de 4,2 toneladas por hectare. A área de plantio foi ampliada em 4,3% e soma 4 milhões de hectares.
Entre os destaques, está a produção de milho. A previsão é de colher um total de 8,55 milhões de toneladas, aumento de 21,8%. A primeira safra, que já está praticamente consolidada, ficou 6,7% maior, com um volume de 5,3 milhões de toneladas.
O maior incremento é esperado na segunda safra. Ao todo, serão 3,1 milhões de toneladas de milho, o que, se alcançado, ficará 60,4% maior. Este ano, com a janela de plantio maior e condições climáticas mais favoráveis, é esperada recuperação da produtividade, que no ano anterior foi prejudicada pela seca. A estimativa é de colher 5,4 toneladas por hectare, variação positiva de 38%. A área de cultivo, 575 mil hectares, está 16,2% maior.
O gerente de Acompanhamento de Safras da Conab, Rafael Fogaça, explica que a Conab constatou uma recuperação forte na produção de milho em relação ao ano passado, quando foram muitas as adversidades climáticas, que provocaram queda significativa na produção.
“O que motiva a produção maior é o aumento relevante de área, puxado pelo fator econômico, já que os preços estão favoráveis, e também pela janela de plantio maior. A soja está sendo colhida mais rápido e, isso, abriu a janela e permitiu a implantação de área maior. Também teremos a recuperação de produtividade esperada para a segunda safra. A semeadura antecipada impacta diretamente a produtividade”, avaliou.
Para a soja, a tendência também é de alta na produção. A estimativa é de colher 7,07 milhões de toneladas, 0,8% maior que em 2020/21. A área plantada com a oleaginosa cresceu 2,5%, chegando a 1,9 milhão de hectares. Já a produtividade tende a cair 1,6%, com rendimento de 3,6 toneladas por hectare.
Queda é esperada na produção de feijão. De acordo com a Conab, a produção total em Minas Gerais será de 512,8 mil toneladas, 3,1% a menos. A primeira safra de feijão tende a recuar 10,9%, com a colheita de 199 mil toneladas. A concorrência com outros grãos fez com que a área de feijão ficasse 2,2% inferior, somando 148 mil hectares. A produtividade esperada é de 1,3 tonelada por hectare, 9% menor.
Já na segunda safra, a produção de feijão pode chegar a 127,7 mil toneladas, alta de 1,6%. Resultado positivo também é esperado na terceira safra de feijão. A produção foi estimada em 185,2 mil toneladas, alta de 3,4%.Para o algodão, a previsão também é de redução. A produção mineira deve totalizar 113,1 mil toneladas de algodão em pluma, 4,5% a menos. A área caiu 11,9%, somando 28 mil hectares. A produtividade esperada, 4 toneladas por hectare, está 8,5% maior.
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