Nova troca em comando da Petrobras preocupa especialistas

São Paulo – As ações da Petrobras despencaram ontem depois que o presidente Jair Bolsonaro trocou novamente o CEO da estatal, a segunda mudança na liderança em dois meses, aumentando preocupações de analistas sobre interferência governamental na empresa, apesar de alguns ressaltarem uma blindagem legal para a política de preços.
José Mauro Ferreira Coelho é o terceiro CEO da Petrobras demitido por Bolsonaro em meio a um descontentamento do presidente com a política de preços dos combustíveis. Caio Mario Paes de Andrade, um alto funcionário do Ministério da Economia, foi indicado para substituí-lo.
A demissão veio após a empresa ter se recusado a vender combustíveis com desconto aos consumidores, alertando que isso levaria à escassez de diesel, segundo apurou a Reuters.
“Os investidores provavelmente verão a mudança como uma intervenção direta relacionada ao preço do combustível no Brasil”, disse o JPMorgan, em nota ao mercado, lembrando que Coelho havia repassado um aumento no preço do diesel em seus 40 dias de mandato.
Segundo o BTG Pactual, “embora a governança corporativa da Petrobras tenha evitado até agora interferências mais diretas, nós tememos que o verdadeiro teste ainda esteja por vir”.
“Em última análise, achamos que o novo CEO enfrenta um difícil dilema: como preservar o próprio emprego seguindo as políticas da empresa e sem comprometer a disponibilidade de combustível do Brasil?”, afirmou o BTG Pactual.
O banco destacou que é importante seguir os preços internos na paridade de importação “para manter um abastecimento saudável de combustível para o País, que depende de importações e cuja oferta é suficiente para atender à demanda”.
Segundo a XP Investimentos, embora a notícia da mudança seja negativa, “pois tal rotatividade não é saudável para nenhuma empresa, não vemos isso como uma mudança na política de preços de combustíveis da Petrobras”.
“Primeiro, porque ainda vemos a Lei das Estatais e o estatuto da Petrobras blindando a empresa de subsidiar combustíveis como no passado, independentemente de quem é o CEO. Em segundo lugar, o Sr. Caio é fortemente ligado a Paulo Guedes, que não é a favor de mudanças na política de preços de combustíveis da Petrobras”.
A Genial Investimentos foi na mesma linha.
“O Sr. Caio Andrade é membro do Ministério da Economia. Sendo assim, achamos pouco provável que o mesmo venha a trazer propostas radicais para a empresa”, disse, ponderando que a notícia deve aumentar a volatilidade no papel.
Para o Citi, a mudança “cria risco em torno de continuidade” da estratégia de longo prazo da Petrobras, mas o banco também observou que a legislação corporativa do País pode proteger o investidor de eventuais interferências.
“Apesar de vermos a mudança como um sinal negativo, o Brasil ainda possui uma governança corporativa forte e leis que protegem o acionista minoritário contra possíveis intervenções externas”, acrescentou.
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