EDITORIAL | Ameaças a considerar

Esta semana, o candidato Ciro Gomes, dono de qualidades que o projetaram nacionalmente quando governador do Ceará, perdeu excelente oportunidade de ficar calado ao declarar à rede CNN que “o País amanhecerá em guerra” na hipótese de que se confirmem as pesquisas que apontam o candidato Lula como vitorioso nas eleições de outubro. Conhecido também pelo seu destempero verbal, Ciro naturalmente estava tentando puxar a brasa para sua sardinha, reforçando sua condição de alternativa à polarização entre os dois candidatos que aparecem com folgada dianteira nas pesquisas. Mas deveria ter refletido que também estava endossando um movimento de provocações com o claríssimo objetivo de causar tumulto e, provavelmente, na visão dos mais radicais, servir de pretexto para movimentos fora do script democrático.
São movimentos explícitos, constantes, que não podem ser vistos como meros arroubos de um político destemperado, o mesmo que no início da semana voltou a afirmar a plenos pulmões que, embora seja dito que leis são para ser cumpridas e não discutidas, não mais obedecerá a determinações do Supremo Tribunal Federal (STF). Faltou alguém para lembrar ao presidente que tal hipótese não se encontra “dentro das quatro linhas da Constituição”. Ou mais explicitamente, dizer-lhe também que pesquisa recente apontou que apenas 10% dos brasileiros endossariam aventuras golpistas.
Aos restantes 90%, e cabe notar que desse grupo evidentemente fazem parte bolsonaristas que democraticamente exercerão seu direito de escolha, mas ainda assim não aceitam que a ordem seja rompida, resta prestar atenção a cada movimento, esperando que os arroubos não sejam mais que tentativas de justificar um resultado adverso. Como, afinal, com mínimo de bom senso, pode alguém condenar o sistema – e as urnas – que o elegeu para sucessivos mandatos parlamentares e, por último, para a presidência da República, acolhendo também três de seus filhos? E se não bastasse agora também acusa o atual presidente do Superior Tribunal Eleitoral (TSE), Edson Fachin, de “conspirar” para eleger Lula.
E disse também ser “impossível” não chegar ao segundo turno, embora variadas pesquisas indiquem o contrário como possibilidade. Tudo isso, como de costume, sem argumentos, sem qualquer prova ou sequer evidências, somente lembrando que Fachin foi o relator do processo que livrou o candidato do PT de uma prisão que, fora dos ambientes palacianos, é vista no mínimo como controvertida. E prossegue tentando desacreditar o processo eleitoral, dizendo que ele não é transparente ou aditável, o que não é verdade. Resumindo, passou da conta.
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