Paes de Andrade pode ter a posse antecipada na Petrobras

Rio de Janeiro – A renúncia de José Mauro Coelho abre espaço para agilizar a nomeação de Caio Paes de Andrade à presidência da Petrobras, avaliam conselheiros da companhia. Com o cargo vago, bastaria o aval do conselho de administração para a troca planejada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo conselheiros ouvidos pela reportagem, a nomeação do novo presidente pode ser feita pelo colegiado e depois ratificada em assembleia de acionistas. O governo espera realizar a troca ainda esta semana, mas a reunião ainda não foi marcada.
Ontem, após a confirmação da renúncia de Coelho, o conselho de administração da Petrobras nomeou o diretor de exploração e produção da companhia, Fernando Borges, como presidente interino.
Coelho foi demitido no fim de maio, mas resistia a entregar o cargo antes da realização de assembleia de acionistas para avaliar a lista de nomeados pelo governo ao conselho de administração da companhia, que inclui Paes de Andrade.
A assembleia ainda não tem data marcada. Depende da análise, por comitê interno, dos currículos dos indicados e deve respeitar um prazo mínimo de 30 dias entre sua convocação e sua realização. Por isso, a resistência de Coelho era alvo de ataques do governo e de aliados.
Em artigo publicado na Folha neste domingo (19), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), chamou Coelho de “presidente ilegítimo, que não representa o acionista majoritário e pratica o terrorismo corporativo como vingança pessoal contra o presidente da República”.
Governo e aliados no Congresso ameaçam a instalação de uma CPI para investigar a direção da companhia. “Chegou a hora de tirar a máscara da Petrobras”, escreveu Lira.
Acionistas privados da Petrobras temem que a pressão de partidos do centrão esconda o desejo de retomar influência na diretoria da estatal. O PP do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, por exemplo, foi apontado como fiador do ex-diretor Paulo Roberto Costa, primeiro delator da Operação Lava Jato.
Por outro lado, representantes dos minoritários passaram a defender mais agilidade na troca de comando, para reduzir a crise que derrubou o valor das ações da companhia ao menor valor do ano na última sexta (17).
A reunião para referendar o nome de Paes de Andrade deve ser marcada assim que forem concluídos trâmites internos, como a avaliação do nome pelo comitê de pessoas. Bolsonaro já anunciou que o novo presidente trocará toda a diretoria da empresa.
Renovação – A renovação do conselho, porém, depende da realização da assembleia de acionistas. Para reduzir resistências de investidores privados a interferências na gestão, o governo propôs uma lista formada majoritariamente por ocupantes de cargos públicos.
Entre eles, o número dois de Nogueira na Casa Civil, Jonathas Assunção. É a primeira vez desde o governo Dilma que um ocupante do Palácio do Planalto é indicado para ocupar o conselho de administração da Petrobras. (Nicola Pamplona)
Demissão reduz a pressão para abertura de CPI
O pedido de demissão de José Mauro Coelho do cargo de presidente da Petrobras ontem tira pressão para que os ganhos financeiros dos dirigentes da estatal se tornem alvos de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), mas a empresa deverá seguir na mira do Congresso, do presidente Jair Bolsonaro e de aliados dele em razão do alto preço dos combustíveis, disseram fontes à Reuters.
A avaliação das fontes é que a ideia de uma CPI deve perder ainda mais tração com a renúncia de Mauro Coelho.
Na sexta-feira, a Reuters havia informado que a sugestão de Bolsonaro, logo após um novo aumento nos preços de combustíveis, de se criar uma CPI para investigar a conduta de dirigentes da cúpula da Petrobras não deveria prosperar.
Na ocasião, Bolsonaro havia reagido duramente aos reajustes de 5,18% para a gasolina e de 14,26% para o diesel anunciados pela Petrobras. O presidente chamou o aumento de “traição” com o povo brasileiro, destacando que já havia conversado com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), sobre uma CPI.
A queixa generalizada de governistas é que o comando da Petrobras estaria trabalhando para manter os bilionários lucros da estatal sem cumprir a função social da companhia em um cenário de alto preço dos combustíveis.
Uma das fontes da pré-campanha do presidente disse que a ideia de uma comissão de inquérito perde força, mas é preciso verificar os desdobramentos do caso. A inflação generalizada – em especial do preço dos combustíveis – tem sido uma das principais preocupações de Bolsonaro, candidato à reeleição em outubro e que está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de intenção de voto.
“Acho que esfria (a CPI). Mas aí vai depender de quem vai assumir e o que vai acontecer se tiver novo reajuste”, disse uma das fontes, ao acrescentar que, pelo menos, o governo precisa mostrar que está lutando contra a alta dos combustíveis. A queda do CEO da estatal foi comemorada na pré-campanha.
Outra importante fonte afirmou, após a renúncia do presidente da Petrobras, que alguém precisa se mexer para que a CPI prosperasse e que isso não deve partir do presidente da Câmara. Na sexta, essa fonte já havia indicado que a comissão não vingaria.
No Twitter no início da tarde de segunda, Lira disse que não há vencedores nem vencidos e que a hora é de humildade por parte de todos. “Não há o que comemorar nos fatos recentes envolvendo a Petrobras. Não há vencedores, nem vencidos. Há só o drama do povo, dos vulneráveis e a urgência para a questão dos combustíveis”, disse. “A hora é de humildade por parte de todos, hora de todos pensarem em todos e de todos pensarem em cada um. A intransigência não é o melhor caminho. Mas não a admitiremos. A ganância não está acima do povo brasileiro”, emendou ele, em publicações no Twitter. (Reuters)
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