Opinião

Perfeccionistas ou largados – ambos atrapalham sua carreira

Perfeccionistas ou largados – ambos atrapalham sua carreira

*Por David Braga

Na intensa construção da carreira, que não é algo fácil, dedicação e assertividade são ingredientes essenciais para quem quer ter relevância no mundo corporativo. É preciso lembrar que a todo momento somos observados, seja por pares e liderados, seja por líderes. Tudo o que fazemos ou falamos vai deixando marcas e revelando quem somos como profissionais.

Enquanto muitos se preocupam excessivamente com o futuro, vale ressaltar que o hoje é o mais importante e definirá onde estaremos daqui a alguns anos. Em vez de buscar apenas os projetos e resultados fabulosos, atente-se para as pequenas ações, que também são muito relevantes no dia a dia. O discurso é legal, mas a prática nem sempre é adotada por muitos profissionais. É exatamente aí que começam os problemas no ambiente organizacional.

Digo isso porque, atuando como headhunter, o famoso “caça-talentos”, observo que várias pessoas, independentemente do nível hierárquico em que se encontram, são demitidas não por falta de qualificação ou de conhecimento técnico. Muitas vezes, o desligamento ocorre por questões elementares. Ao subestimar o básico ou clichê, elas acabam cometendo erros graves, inclusive, gerando prejuízos à empresa.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Uma simples falta de alinhamento ou ineficiência de um comunicado pode gerar um clima organizacional extremamente danoso. Outro exemplo é chegar atrasado a uma importante reunião – isso pode denegrir sua imagem profissional. Olhar no olho enquanto conversa também é básico, mas nem sempre as lideranças adotam essa postura ao falar com seus liderados. O receio de perguntar algo simples e direto, que pode te ajudar a resolver uma demanda do cliente ou economizar uma certa quantia em um projeto, também atrapalha bastante. Parece óbvio, mas essa postura pode gerar retrabalho, erros e até mesmo a perda de contrato, simplesmente por não questionar.

Ficar reclamando pelos cantos com colegas, seja sobre o líder seja sobre pequenas questões da empresa também é negativo e pode voltar contra você. Como pode perceber, eu só citei questões triviais do cotidiano dentro das organizações. De nada adianta ter diplomas em faculdades renomadas e uma boa posição hierárquica, se no final do dia você não entregar os resultados esperados ou contabilizar erros básicos. Lembre-se disso quando julgar uma tarefa boba ou fácil demais. Esteja sempre atento aos detalhes.

Como digo sempre: “Feito é melhor que perfeito”. Em um mundo corrido como o que vivemos hoje, com as diversas entregas que temos a fazer ao longo do dia, seja para os clientes, seja para nossos líderes, é preciso muito cuidado para não ser perfeccionista em excesso. Evidentemente, esmero e qualidade são importantes em todas as nossas tarefas, mesmo porque isso afeta diretamente nossa credibilidade e como somos percebidos como profissionais e como pessoas.

Ter uma boa dose de equilíbrio e adotar o lema “nem tanto ao céu, nem tanto à terra” são boas decisões no ambiente de trabalho. Isso porque ser extremista – ou perfeccionista demais ou largado aos detalhes – é sempre ruim. O indivíduo perfeccionista usualmente tem a convicção de que esse é o único caminho para a própria aceitação e a dos outros. Por isso, busca incessantemente os melhores resultados. Geralmente, ele tenta agir de forma impecável para se proteger das críticas, da rejeição e da desaprovação do mundo – como se isso fosse possível.

Antes visto como qualidade inquestionável, o perfeccionismo pode prejudicar a produtividade, as relações e a capacidade de se adaptar a mudanças. Definir-se como perfeccionista durante uma entrevista de emprego, atualmente, equivale a admitir ter altos níveis de estresse e ansiedade no trabalho, sem nenhuma vantagem no desempenho das tarefas em comparação aos profissionais que não têm essa característica. Isso é comprovado em um estudo divulgado por pesquisadores das escolas de negócios da Universidade da Flórida, do Instituto de Tecnologia da Geórgia e da Universidade de Miami, todas nos Estados Unidos.

A verdade é que a perfeição não existe. Quanto mais as pessoas buscam por ela, mais acabam se frustrando. Além disso, tornam-se muito críticas e exigentes, porque, para elas, nada é bom o suficiente — nem o que elas mesmas fazem nem os outros. Usualmente, o profissional perfeccionista tem dificuldade para trabalhar em equipe, pois é centralizador. Falta confiança nos colegas, uma vez que acredita que só ele consegue fazer as coisas de forma perfeita. Também é competitivo ao extremo, afinal, sempre precisa ser o melhor. Se você acredita ser perfeccionista, tome cuidado. Agora já sabe que isso pode afetar totalmente a sua carreira.

Já a pessoa executora sem cuidado pode deixar passar detalhes, entregar trabalhos sem revisão e com erros. Também não é positivo. Na ânsia de entregar suas tarefas com antecedência e no prazo, pode deixar passar informações relevantes. Por isso, para profissionais com esse perfil sugiro também equilíbrio e cuidado. Revise seus relatórios; tente impor um ritmo menos acelerado ao que for executar; reveja dados e processos ao longo do dia. Respire. Tente usar seu tempo de maneira mais assertiva.

 A vida pede equilíbrio para ambos os perfis. Pense nisso para 2023 – sua qualidade de vida no trabalho e, consequentemente na vida pessoal, pode dar um salto!

* CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, empresa de busca e seleção de executivos presente em 30 países pela Agilium Group. É conselheiro de Administração e professor convidado pela Fundação Dom Cabral, e conselheiro da ABRH-MG, ACMinas e ChildFund Brasil. Instagrams: @davidbraga | @prime.talent

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas