Liderança e sustentabilidade

*Por Sidemberg Rodrigues
Se na Sustentabilidade em 6 Dimensões há ênfase na dimensão Espiritual (o sujeito em sua individualidade) e na dimensão Política (representações e relações), se esse sujeito atuar em posição de mando na hierarquia, de um para muitos, a atenção precisa ser redobrada. O mundo experimenta a ressaca deflagrada pela transição de paradigmas entre os dois últimos séculos. Se a policrise (crise de mercado, valores, política, ambiental, social, financeira e, até espiritual) parecia o pior, a moderna gestão vem provando o gosto amargo da falta de direção, com a escassez de bons líderes.
E o mundo parece escorregar no mesmo lodo, haja vista a luz de estadistas que se apagou com a aposentadoria de Angela Merkel. E a energia de uma era de líderes mais jovens acaba limitada pela pouca experiência – ou pela miopia gestora da arrogância. Além de sobrarem presidentes e primeiros ministros maluquinhos. Ou belicosos. O desconforto causado pelo sumiço do agente inspirador, que aponta caminhos em tempos sombrios, amplificando o potencial humano, tem feito organizações pagarem preço de ouro por um bom exemplar da espécie. A pergunta que não quer calar é: “que fenômeno inibiu a boa liderança?”. Assim como os economistas já não explicam a economia, as áreas de RH não têm respostas para o evento que reduziu “líderes” a “chefes”.
Os escritórios estão cheios de repetidores de sinais e raros questionadores do establishment e encurtadores de caminhos. O medo parece cultura predominante e reproduzir modelos é a tônica dos que preferem imitar a assumir riscos. Se a criatividade passou a ser sinônimo de custo fixo, independente de seu potencial de inovação e revolução, talvez aí esteja uma boa pista: redescobrir o ser humano pode ser essencial. Recursos humanos se transformaram em recursos numéricos? Se a área que identifica, desenvolve e ajuda a manter os talentos abusou de sua proximidade com a contabilidade, quem sabe um resgate de sua essência não seja capaz de exumar velhas fórmulas que tem a boa liderança como o expoente das equações de sucesso?
Não se fala aqui de um erro proposital, mas de um desvio a ser corrigido. Só olhar para os resultados das empresas. Insistir em modelos de gestão que não priorizam a satisfação individual, a autonomia, a felicidade e a transgressão que causa quebras paradigmáticas, compreende erro fatal. Se a falha vem do topo da organização, troque o comando! Inadmissível manter a antropofagia no nível C, se o que se deseja é a excelência coletiva e a sustentabilidade do negócio. Explorar para prosperar tornou-se paleolítico. Aí está o Capitalismo Consciente para nos salvar! O ritmo tecnológico acelerado e o foco no capital levam muitos ao erro. Alguns à falta de ética e aescorregões na integridade. Mas, nosso foco hoje não é legalidade. E sim direção e moralidade.
Há um dever de casa: priorizar qualquer coisa preterindo a esfera humana é um atestado de imaturidade do senso moral. Com isso, péssimos resultados. Talvez, até a expulsão do mercado por obsolescência ou falência. Se ainda não ficou claro, o ser humano é o novo paradigma, porque a inovação é a salvação: máquinas não inovam sem cérebros. E mentes precisam de paz e inspiração. E nesse aspecto, um líder faz toda a diferença. Enquanto a gestão se restringir a “budget”, as “bridges” continuarão levando a decepcionantes “ebitdas”. O mundo passa por um apagão de liderança. Em âmbito privado, isso pode ser um péssimo “business”.
*Conferencista, articulista e professor de Sustentabilidade, Gestão e Integridade em cursos MBA. Autor dos livros: Espiritual & Sustentável (sustentabilidade em 6 dimensões); Complementaridade (gestão sustentável) e Miséria Móvel (crítica social). Contato: [email protected]
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