Opinião

Mudanças impositivas

Mudanças impositivas
Crédito: REUTERS/Ueslei Marcelino

Embora pouco tenha sido dito a respeito, a montagem da equipe de governo que acompanhará o presidente Lula nos próximos 4 anos tem se revelado tarefa das mais complexas, ainda que sem novidades. O problema é o de sempre, faltam cargos para tanto apetite e que ninguém tenha a inocência de imaginar que tudo isso é por conta de um incontrolável desejo de servir à pátria. Seguindo o roteiro já conhecido de tanto que é repetido, o novo governo busca construir uma maioria confortável e ao mesmo tempo enfraquecer o PL para não ser incomodado e ao mesmo tempo cortar as asas do ex-presidente Bolsonaro.

Alguém poderá lembrar que este é o jogo político e dele faz parte, em qualquer lugar do planeta onde o parlamento seja o centro do poder. Nunca, porém, em países como o Brasil, em que o pluripartidarismo se transformou num monstrengo capaz de forçar transações nada ortodoxas, tudo isso à luz do dia, como agora, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Não existem virtudes, somente ambições que por sua própria natureza fragilizam os acertos e comprometem a governabilidade, tudo isso a um preço que não para de subir. Que outro sentido teria o tal orçamento secreto, ainda por ser cabalmente esclarecido e apagado, sem que tenha cumprido os objetivos de seus idealizadores?

Fica a impressão de que, embora alguns maus hábitos e ambições além da conta possam ter sido apagados, os bastidores e a dança de cadeiras, em certos casos com composições que há poucas semanas pareceriam impossíveis, prosseguem inalterados. É a política, sim, mas na sua pior face, ajudando a manter o Brasil aprisionado a interesses e circunstâncias que continuam longe daquelas que coincidiriam com a vontade, com as demandas coletivas. E tudo isso sem que ninguém, ou quase, tenha em conta o fato de que não há como avançar, como devolver à política e à gestão pública seu lugar e seu papel sem que seja posta de pé a reforma, que  foi bandeira mas caiu em completo esquecimento. Sim, aquela mesma que já foi apontada como a primeira de todas, o ponto de partida para as mudanças que, percebe-se agora, bem poderiam ter evitado que o País chegasse ao ponto a que chegou.

Assim como cabe registrar os acontecimentos, também cabe olhar para frente, carregando a esperança, mesmo que simbolicamente, de que os acontecimentos do dia 8 passado  tenham sido também o ponto de inflexão. E que a resposta esperada vá muito além das questões policiais e jurídicas.

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