Centrais sindicais fazem ato unificado nesta 6ª feira em defesa dos trabalhadores

Embora a Americanas negue o início das demissões, centrais sindicais planejam um ato unificado na manhã desta sexta-feira (3), na Cinelândia, na cidade do Rio de Janeiro, em defesa dos empregos e direitos dos trabalhadores da empresa. O presidente do Sindicato dos Comerciários de Belo Horizonte e Região (SECBHR), João Pedro Periard, conta que já está com viagem marcada para a capital fluminense, onde fica a sede da varejista. “O sindicato está atento, preocupado e acompanhando os desdobramentos da recuperação judicial da empresa”, frisa.
Na última terça-feira, representantes do sindicato iniciaram uma panfletagem em diversas unidades da Americanas da capital mineira e região para alertar os trabalhadores a procurar a entidade em caso de problemas trabalhistas com a companhia, sejam de direitos ou condições de trabalho. “Até o momento, na nossa base, a empresa está em dia com as obrigações trabalhistas”, diz o dirigente. Situação que não afasta o receio dos impactos da reestruturação, com possível fechamento de unidades com vendas mais baixas e custos mais altos, o que provocaria cortes nas vagas de trabalho.
Por meio de nota, a Americanas informa que “apenas interrompeu alguns contratos de empresas fornecedoras de serviços terceirizados”. A empresa, que soma cerca de R$ 43 bilhões em dívidas com credores, conta com cerca de 45 mil funcionários diretos e aproximadamente 60 mil indiretos no país. Em Minas, conforme o sindicato, são 168 lojas, sendo 48 em Belo Horizonte e região metropolitana.
Na nota, a Americanas informou que atua “nesse momento na condução de seu processo de Recuperação Judicial, cujo um dos objetivos é garantir a continuidade das atividades da empresa, incluindo o pagamento dos salários e benefícios de seus funcionários em dia”. E ressaltou que o plano de recuperação definirá quais serão as ações da empresa para os próximos meses e que será amplamente divulgado assim que for finalizado.
Além dos problemas financeiros, a empresa enfrenta problemas com consumidores, o que fez com que o Procon-MG, órgão do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), multasse em R$ 11 milhões a Americanas S/A por descumprir ofertas, cancelar compras e não entregar produtos adquiridos por consumidores em seu site de vendas.
Levantamento do portal ReclameAqui.com, por exemplo, apontou 445 reclamações, de 4 de janeiro de 2020 a 4 de janeiro de 2022, de consumidores mineiros sobre o descumprimento de ofertas pela empresa e seus parceiros e sobre a indisponibilidade de estoque de produtos vendidos no site da Americanas S/A.
Rede em São Paulo já tem prateleiras vazias
São Paulo – A Americanas já começa a enfrentar problemas de abastecimento. Prateleiras vazias já são vistas em lojas da rede visitadas pela reportagem em São Paulo nos últimos dez dias.
Tradicional vendedora de guloseimas como chocolates, biscoitos e chicletes, a varejista acumula dívidas milionárias com grandes fornecedores, como Nestlé (R$ 260 milhões), Bauducco (R$ 97 milhões) e Mondelez (R$ 93 milhões). Esta última é dona de marcas como Lacta, Trident, Mentos e Oreo.
Alguns fornecedores não têm mais interesse em continuar fornecendo para a Americanas, apurou a reportagem. A empresa sempre foi considerada um trunfo pelos fabricantes: tendo em vista o tamanho da sua rede e do marketplace, os fornecedores conseguiam alavancar seu market share (participação de mercado). Mas o temor de calote, especialmente entre os pequenos, que não contam com seguro de crédito, é grande.
Em razão da dificuldade de abastecimento, a companhia deu início a um processo de realocação de estoques entre as lojas, a fim de garantir produtos nos pontos de mais alto fluxo. Existe a expectativa que ao menos 30% dos pontos de venda fechem as portas, a fim de reduzir os custos fixos com aluguel e pessoal, segundo pessoas ouvidas pela reportagem sob condição de anonimato.
Em entrevista no último dia 21, porém, o diretor de Operações e Relacionamento com o Consumidor da Americanas, Marcio Chaer, afirmou que não houve alteração na oferta de produtos e no fluxo de pagamentos a fornecedores. Segundo ele, a previsão era de ocorrer uma otimização de recursos para garantir a sustentabilidade da companhia no curto prazo. “Certamente vamos ajustar aquilo que não for essencial para a gente”, disse.
Questionada novamente pela reportagem a respeito de problemas de abastecimento, a Americanas respondeu que o planejamento de estoque próprio é feito com bastante antecedência. “A companhia segue com níveis adequados de estoque e está coordenando a revisão e redistribuição de produtos, buscando maior otimização de vendas e margens, ação que faz parte da dinâmica do varejo. As negociações comerciais seguem em ritmo saudável para a companhia e fornecedores com quem tem relações históricas”, afirmou por meio de sua assessoria, em nota.
Segundo a varejista, o sortimento do marketplace voltou a patamares similares aos meses anteriores aos últimos acontecimentos. “A força da marca Americanas, com mais de 90 anos de história, e a relação próxima e transparente com os lojistas parceiros, abriu portas para a entrada de novos sellers neste período recente.” (Daniele Madureira/Folhapress)
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