Opinião

EDITORIAL | Suicídio coletivo

EDITORIAL | Suicídio coletivo
Crédito: Pixabay

No seu encontro da semana passada em Washington, os presidentes Joe Biden e Luiz Inácio Lula da Silva incluíram na pauta de discussões entre os dois países a questão das redes sociais, disseminadoras das fake news e a consequente necessidade de regular todo o processo. Era esperado, uma vez que os dois países muito provavelmente são, hoje, os que melhor conhecem os efeitos deletérios da má utilização dessas ferramentas, um fenômeno de alcance global. Nos casos em tela, a começar da eleição dos presidentes Trump e Bolsonaro e suas consequências, bem simbolizadas na invasão do Capitólio e, adiante, da Praça dos Três Poderes. Há que tomar estes acontecimentos como, mais que ameaça potencial, uma espécie de aviso que, se não for considerado, poderá subverter a ordem política e a democracia, em total inversão de valores e princípios até aqui tidos como sagrados.

Há que ser considerado igualmente que já está estabelecido o controle global da informação nas mãos de apenas duas empresas, ambas de origem norte-americana e reputação controvertida, que igualmente controlam a maior fatia da publicidade global. Um sistema tão consolidado quanto perverso, capaz de avaliar, um a um, o perfil de seu público, mesmo que este seja constituído de bilhões de indivíduos, assim direcionando as informações a que cada um tem acesso. Algo bastante refinado e em vias de tornar-se ainda mais efetivo e ameaçador com a utilização da chamada inteligência artificial.

Evitar que este mal se enraíze e aprofunde ainda mais, com efeitos que sequer podem ser avaliados, é exatamente o oposto da ideia que se procura disseminar. Trata-se sim de proteger a liberdade de informação e expressão, a própria censura como muitos afirmam, impedindo que poucos possam controlar a informação e o conhecimento, conforme seus obscuros interesses e objetivos, em detrimento do plural, do coletivo e da diversidade. A persistirem estes desvios, que já alcançam proporções nunca imaginadas, é certo que também os pilares de sustentação social e político da sociedade estarão ameaçados de controle e, consequentemente, sob risco de colapso.

E a quem eventualmente ainda entender que existe exagero nessas avaliações recomendamos apenas que procure conhecer dados há pouco divulgados pelo NetLab, vinculado à Faculdade de Comunicação da UFRJ, demonstrando que entre os meses de novembro e janeiro apenas o Facebook e o Instagram aceitaram em suas plataformas 185 anúncios pagos, patrocinados portanto, de conteúdo mentiroso ou distorcido, sem que tivessem sido aplicados os filtros que elas próprias dizem utilizar. Isso aconteceu, cabe destacar, mesmo após a invasão da Praça dos Três Poderes e depredação das sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário. Mais que nunca fechar os olhos toma ares de suicídio coletivo.

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