Opinião

Inflação e desenvolvimento

Inflação e desenvolvimento
Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

José Eloy dos Santos Cardoso*

O presidente atual do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, é contrário a mudanças repentinas nas metas de inflação atuais e ele tem suas razões. Fica claro se se libertar dos atuais controles rígidos, a inflação pode acelerar e suas simples “expectativas” poderiam desencadear inflações anuais ou mensais bem superiores ao que está ocorrendo atualmente no Brasil. A liberação de mais dinheiro para o púlico consumir e tomar mais empréstimos poderia estimular o consumo e até o consumismo irresponsável. Se parte da população já está endividada e sem meios de abaixar o que devem, o dinheiro mais fácil pode desenfrear a alta do nível de preços.

É bom lembrar que, na época do ex-presidente Fernando Collor, sua ministra da Economia, Fazenda e Planejamento era Zélia Cardoso de Mello, que não era parente direta dele mas sua admiradora como economista e professora. Ela não tinha como resolver uma taxa de inflação que chegou a ser a 80% ao mês. A solução encontrada foi tirar moeda de circulação. Bloqueou todos os ativos financeiros como depósitos à vista e poupanças maiores do que 50 mil cruzados novos por 18 meses. A população, sem dinheiro maior, teve que se contentar com tabelamentos que, por sua vez, provocou falta de bens até de alimentação e, com pouco dinheiro, teve que se contentar com uma poupança forçada. É claro que a inflação sem maior disponibilidade monetária de ativos financeiros disponíveis fez a inflação ser drasticamente reduzida, mas, por outro lado, provocou desabastecimentos, desempregos e outras consequências. Com a liberação de importações, as consequências de concorrência com importados provocou fechamento de empresas e aumento do desemprego.

Em economia, tudo funciona como um motor. Se faltam algumas peças, esse motor não será produzido e suas consequências, entre outras, são o desemprego direto e indireto. Controlar uma economia qualquer não é uma tarefa fácil como uma parcela da população possa entender e até absorver. O governo pode até fazer alguma coisa, mas não pode fazer tudo. Ele não é produtor total de bens e serviços, a não ser a oferta de serviços médicos, escolas e até de serviços urbanos como limpeza urbana. Se mexer em um setor, outros não ficarão impunes e inertes.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) deve proximamente se reunir para deliberar, entre outras coisas, como baixar as taxas de juros que estão em 13,75% ao ano.  Baixando só 1%, por exemplo, consequências virão. O presidente Lula pode estar querendo baixar essas taxas para estimular, principalmente, o consumo mas a demanda agregada é composta do consumo, dos investimentos e da demanda do exterior que são as importações. O Brasil precisa aumentar o nível de investimentos, mas como fazer isso? Para aumentar os investimentos do governo como a malha ferroviária, por exemplo, mesmo se os investimentos do exterior forem estimulados ou liberados, é preciso o governo investir uma parcela nesse montante. Sem que isso ocorra, os investimentos serão impossíveis. Qualquer investimento, mesmo do exterior, exige uma parcela de participação governamental. Uma diminuição nas despesas de custeio é possível, mas como dispensar funcionários públicos que são, pelas leis, estáveis? Tudo tem consequências para melhor ou para pior.

O presidente do Banco Central pode não gostar dos juros elevados, mas isso deve ser feito e ajustável de forma sustentável tanto a curto quanto a longo prazos. A autonomia do Banco Central é relativa, mas possível de ser feita. Mesmo se o presidente do BC mudar, pouco ou nada pode ser feito de imediato. A independência deste organismo deve ser escutada para o restante da economia não se esfacelar. A revisão atual da meta de inflação deve ser revista, mas tem que tomar cuidado para não deixar a inflação e a economia irem para o cano de esgoto. As manifestações na frente do BC condizem mais com política estudantil que com a responsabilidade de conduzir uma complicada política econômica, que, se forem contraditórias, nem cenário de correções irão resolver.

*Economista, professor titular de macroeconomia da PUC-Minas e jornalista

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