Opinião

O que aquece o coração

O que aquece o coração
Crédito: Pixabay

Fábio Ribeiro Baião*

Celebra-se o que é memorável, para poder fincar um marco de dia de júbilo em nossa existência para coroar a culminação de grandes feitos. Pode ser uma formatura, um aniversário ou uma inauguração. Mais do que pedir, como é grandioso se reunir quando se tem o que agradecer!

O calor da presença dos participantes desperta a consciência do sentimento de comunidade. Somos uma partícula de um quebra-cabeça em que a interdependência é a tônica. Compreender as consequências da motivação como mola mestra propulsora do bem é ainda mais incrível. É admirável como a sensação de saúde física se entrelaça com a sensação de plenitude quando podemos festejar realizações. E nos sentirmos revigorados.

A felicidade pura reinante nestas circunstâncias é totalmente diversa das emoções presentes em outras ocasiões de muita adrenalina. A sensação de alegria efusiva pode precipitar a síndrome do coração feliz (happy heart syndrome) também conhecida como síndrome de Takotsubo. Nela a pessoa tem os sinais aparentes de um ataque cardíaco – dor no peito e falta de ar – cujo tratamento é feito na Sala de Emergência de um Pronto Socorro. Mas não há razões de pânico para parar de vibrar por seu time favorito quando ele ganhar, nem se entristecer quando ele for desclassificado. Pois é uma condição rara em que dois terços dos casos têm fatores corporais próprios facilitadores, tais como a epilepsia e o hipertireoidismo. O que chama atenção nesta síndrome é que os elementos habituais de risco para problemas do coração tal como diabetes, colesterol alto, hipertensão arterial, tabagismo e história familiar para doença cardíaca estão ausentes. O inverso também pode precipitar Takotsubo, isto é, uma avalanche de emoções negativas pode ser capaz de causar a síndrome do coração partido (broken heart syndrome). As situações mais frequentes são o terror de um quase afogamento, notícias econômicas terríveis, estar internado em um Centro de Tratamento Intensivo (CTI), certas condições neurológicas ou psiquiátricas, saber do falecimento de um ente querido dentre outras.

Promover a solidariedade, a superação e a inclusão são as medidas sociais fundamentais para ajudar a superar os males mais comuns que afetam a humanidade em qualquer parte do mundo: solidão, dificuldades financeiras que ameaçam a sobrevivência, adoecimento e discriminação. O entendimento da realidade promove maior adaptabilidade para se moldar às mudanças do mundo. Em consequência, o aprendizado da resiliência fornece um poder inspirador para suportar a adversidade e sentir prazer em vencer o desafio. A calma pode ser aprendida. É notório que a generosidade pode estar presente em qualquer classe social, pois a bondade e a palavra amiga podem construir conexões interpessoais que promovem a sensação de que tudo faz valer a pena.

Criar momentos bons que podem ser lembrados mais adiante é também uma forma valiosa de contribuir para a própria felicidade futura. Lá na frente, a nostalgia recheada de coisas boas, principalmente quando compartilhada, pode nos fazer mais felizes conosco mesmos. É provado que quem tem boas lembranças de sua autobiografia parece apreciar melhor o mundo. Alimenta positivamente também a autoestima. E isto pode ser usado como remédio. Pois, não podemos reescrever o passado, mas podemos agir de modo diferente a partir de agora. Daqui a pouco teremos do que nos orgulhar. Muitas formas de criar momentos especiais podem ser usadas, um cheiro que pode evocar lembranças familiares, um sabor de um tempero especial, uma música que nos remete a uma viagem no tempo, uma dança que nos embala e seduz, um trecho de um livro que nos marcou, um filme ou jogo inesquecível.

Manter-se inserido no contexto de fazer o bem onde quer que estejamos é um dos segredos para celebrar a vida. Afinal, é seguir na busca do que nos faz sentir a razão de viver. Ousemos sempre manter esta coragem, como canta Arnaldo Antunes em “Envelhecer”: “Eu quero estar no meio do ciclone/para poder aproveitar…”

*Médico Ortopedista em Belo Horizonte

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