Juros elevados freiam a atividade econômica

Rio – Os patamares elevados de juros e de endividamento das famílias desaceleraram a economia em 2022 e causaram uma retração de 0,2% no Produto Interno Bruto do quarto trimestre, informou ontem a Fundação Getulio Vargas, na pesquisa Monitor do PIB/FGV.
A estimativa da FGV é que o resultado anual de 2022 apresentou crescimento de 2,9% na economia. A fundação considera a variação um bom resultado, apesar de marcado pela desaceleração ao longo do ano.
A coordenadora da pesquisa, Juliana Trece, destaca que o setor de serviços contribuiu com mais de 80% do desempenho da economia no ano passado, com destaque para setores como atividades de alojamento, alimentação, saúde privada, educação privada, serviços prestados às famílias e às empresas.
“Esta atividade, que foi uma das que haviam apresentado as maiores perdas devido à necessidade de distanciamento social no período da pandemia, impulsionou o PIB de 2022 graças a normalização das atividades sociais e aos estímulos fiscais dados a economia”, disse a economista.
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O PIB dos meses de outubro, novembro e dezembro teve uma queda de 0,2% em relação a julho, agosto e setembro, concluindo o caminho de desaceleração da economia ao longo do ano. Mesmo assim, o resultado do 4º trimestre de 2022 ficou 1,9% acima do mesmo período de 2021.
Já no mês de dezembro, a pesquisa da FGV mostra que a economia cresceu 0,2% em relação a novembro; e 1,4%, sobre dezembro do ano passado.
Consumo e investimentos
O consumo das famílias brasileiras alcançou o maior valor desde o início da série histórica e teve uma alta de 4% em 2022, segundo a pesquisa. Apesar disso, o consumo de bens duráveis, como veículos e eletrodomésticos de grande porte, teve queda. “Por serem compostos por bens de maior valor agregado, os altos níveis dos juros, de certa forma inibem o consumo desses tipos de bens”, avalia a FGV.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), parâmetro para investimentos, cresceu 1,1%, apesar da queda dos gastos com máquinas e equipamentos. Segundo a pesquisa, a construção contribuiu positivamente para esse indicador.
Em relação ao comércio exterior, houve crescimento tanto nas exportações (6%) quanto nas importações (0,9%), ao longo de 2022.
A produtividade na economia, que está em uma trajetória de queda desde 2014, chegou em 2022 a um dos menores valores da série histórica, abaixo do ano de 2008. (ABr)
Analistas avaliam que meta de inflação está errada
São Paulo – O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, afirmou ontem não ver problema em mudança na meta de inflação, argumentando que ela está “completamente errada”, em avaliação acompanhada pelo sócio-fundador da Verde Asset Management, Luis Stuhlberger, e pelo sócio-fundador da JGP, André Jakurski.
Xavier argumentou que a meta deste ano foi acertada em meados de 2020, em meio à pandemia de Covid-19, em um cenário bastante diferente, e que agora ela ficou “inalcançável”.
A meta da inflação para 2023 é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. Para 2024 e 2025, o patamar estabelecido é de 3%, com a mesma banda de tolerância.
“Era um cenário diferente, visto a posteriori (a meta) está muito justa, muito ambiciosa para a gente alcançar… Então eu vou e altero. Não tem nada de errado nisso”, afirmou Xavier, na BTG Pactual CEO Conference 2023, em São Paulo. “O que adianta eu dizer que vou buscar 3,25% e fazer 6%.”
Ele citou que o país passou por várias situações inflacionárias nos últimos anos, como a pandemia de Covid-19, a guerra na Ucrânia, mudança de descarbonização e energia limpa, a questão das cadeias produtivas, entre outros.
“Se a gente tem uma reunião a cada ano, no mês de junho, para reavaliar as metas de inflação, por que é que isso é um dogma tão grande de corrigir?’, questionou.
Os mercados tem reagido negativamente a ruídos de uma eventual elevação da meta, principalmente após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionar no mês passado se a meta para a inflação não está baixa demais.
Para Xavier, uma eventual preocupação quanto à desancoragem de expectativas para a inflação não se justifica, citando que as mesmas já estão desancoradas. Ao mesmo tempo, não avalia que muda a credibilidade do Banco Central.
O gestor também ponderou que uma mudança é factível mesmo dada a incerteza fiscal muito grande no momento, afirmando se tratar de outro assunto, que deve ser endereçado ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estava presente no evento.
“Mas ninguém tem coragem de chegar para o ministro Haddad e falar ‘ministro, sabe qual o problema da meta de inflação? É porque as pessoas não têm confiança na execução fiscal’”, afirmou. Mas ele destaca ser necessário separar as discussões. “A discussão da meta de inflação é uma, e ela está errada, completamente errada. Não faz sentido nenhum.”
No mesmo evento, Stuhlberger afirmou concordar com Xavier e também afirmou que “buscar uma meta irrealista não é uma coisa boa pro Brasil no atual momento” do país, bem como destacou que é necessário um arcabouço fiscal crível.
Jakurski acompanhou a avaliação de Xavier e Stuhlberger de que a meta está errada. “Eu acho que não dá para perseguir essa meta.” E também ressaltou que considera ser mais importante primeiro definir a regra fiscal que vai substituir o teto de gastos.
As declarações dos gestores ajudaram os mercados de ações, câmbio e juros futuros, tendo ainda como suporte o discurso de Haddad no mesmo evento. O Ibovespa mostrou melhora, enquanto o dólar perdeu força frente ao real e as taxas dos contratos de juros futuros caíam.
O ministro da Fazenda afirmou que entende a ansiedade do mercado financeiro, que classifica como “ruído”, e que o governo anunciará no mês que vem a proposta de um novo marco fiscal para o país. E afirmou ainda ser a favor de metas exigentes, tanto para a política fiscal quanto para a monetária, mas ressaltou que elas precisam ser exequíveis. (Reuters)
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