Opinião

EDITORIAL | Números que fazem pensar

EDITORIAL | Números que fazem pensar
Crédito: Divulgação

A recuperação da economia e, sobretudo, a retomada de um processo de crescimento sustentado passa, necessariamente, pela reindustrialização, que, por seu turno, depende da redução de custos num sentido amplo, devolvendo competitividade ao setor e, claro, estimulando investimentos. Sair dessa cartilha equivale a aceitar um caminho mais estreito onde, no mínimo, resultados serão mais lentos. É questão que precisa ser vista no contexto global em que a pandemia fez ver que a descentralização da produção industrial, tendo sempre como alvo a busca de menores custos, embute custos que estrategicamente não são aceitáveis.

Não é por outro motivo que, conforme lembrou recentemente o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, países que representam mais de 90% do Produto Bruto global estão revendo suas políticas de estímulo à indústria, em sintonia com as mudanças nas cadeias globais de suprimentos. Mais diretamente, este é o resultado da constatação de que a dependência de fornecedores externos havia alcançado um nível para além de limites aceitáveis, ao mesmo tempo em que debilitou as economias internas. Não por outro motivo, estimativas atualizadas fixam em US$ 5 trilhões os investimentos dos países mais ricos em políticas ativas de fortalecimento de suas respectivas indústrias.

Esvaziada a ideia da globalização, em que a redução de custos e a potencialização de resultados pareciam ser os únicos parâmetros aceitáveis, o mundo se deu conta com a falta de vacinas e, adiante, de componentes eletrônicos, da necessidade de mudanças. Uma realidade que não pode escapar à observação e reação dos responsáveis pela formulação da política econômica no Brasil, sob risco de um esvaziamento ainda maior num processo regressivo que não pode ser aceito e, portanto, deve ser revertido. É disso, essencialmente, que nos fala o presidente da CNI.

Trata-se de mudar, e rapidamente, ou fracassar irremediavelmente. Basta ter em conta que a participação do setor industrial na formação do produto bruto brasileiro chegou aos 48% em 1985 e caiu para 23,6% no ano passado. Mesmo assim, lembra Robson Andrade, o setor ainda é responsável por 38% dos impostos federais recolhidos, somados à Previdência e ao ICMS, por 71,8% das exportações e por 66,4% dos investimentos privados em pesquisa e desenvolvimento. São números tão exuberantes quanto capazes de confirmar o desbalanço iniciado exatamente quando os conceitos que fundamentaram a globalização foram levados a extremos. Disso é exemplo mais forte o virtual desaparecimento da indústria nacional de autopeças, também um convite à inflexão que não deve ser adiada.

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