CCBB BH é palco da arte dos irmãos Pandolfo

A arte de Gustavo e Otavio Pandolfo, mais conhecidos como “Os Gêmeos”, faz parte do nosso dia a dia. Ela pode estar num muro da rua – e ter uma vida efêmera, sobrevivendo até que alguém decida passar uma tinta na parede –, na pintura de um avião, na lateral de um prédio de uma cidade qualquer do mundo ou dentro de um museu.
O traço e a combinação de técnicas inconfundíveis não são privilégio, hoje, do público brasileiro. A obra dos irmãos nascidos em 1974 está difundida mundialmente. A partir de quarta-feira (22) e até 22 de maio, Belo Horizonte receberá uma mostra especial das obras da dupla, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB BH), que realiza a primeira exposição dos artistas em solo mineiro, com patrocínio do Banco do Brasil.
A mostra “Os Gêmeos: Nossos segredos”, com curadoria dos próprios irmãos, reúne quase mil itens e foi escolhida pelo CCBB por conta do ineditismo da dupla no estado de Minas Gerais. A exposição – que atraiu mais de 830 mil visitantes no Rio de Janeiro, entre outubro de 2022 e janeiro deste ano – reúne características pensadas para Belo Horizonte, como a configuração renovada de Templo e de Gigante, adaptadas especialmente para o espaço do CCBB, e o módulo “Assim bordei meus sonhos”.
O núcleo não leva esse nome porque revela a aptidão dos irmãos por bordado, como pode sugerir. O espaço é dedicado para outra artista muito especial e que está intimamente ligada à trajetória dos irmãos: dona Margarida Leda Kanciukaitis Pandolfo, a mãe da dupla.
O térreo do CCBB ganhará dezenas de bordados e pinturas em que Margarida Pandolfo retrata memórias, emoções e pensamentos de maneira lúdica e reflexiva, inclusive com trabalhos de outros companheiros da arte: o professor de pintura e a irmã Verônica. A sala em que a artista costuma bordar foi reproduzida na mostra.
Tradição em cidades mineiras em que a prática perpetua entre gerações, o bordado arrebatou Margarida quando ela tinha 60 anos de idade. A partir da primeira peça, nunca mais parou. Semanalmente novas figuras e cores tomam conta de sacos de batata que ela utiliza como base para os trabalhos. Obras de Margarida já foram expostos da Espanha e na Lituânia.
Universo lúdico
A mostra é inspirada na exposição apresentada na Pinacoteca de São Paulo e no MON de Curitiba (PR), entre 2020 e 2022. A recente exposição dos trabalhos de Gustavo e Otavio Pandolfo apresenta uma visão generosa de um universo lúdico (Tritrez), partilhado pelos irmãos desde a infância, do qual se origina boa parte dos personagens que compõem a sua arte.
O conjunto de peças foi organizado de forma a transmitir informações e sensações sobre uma produção artística bastante peculiar. Esse universo não é perfeitamente traduzível em palavras; são janelas que se abrem para outro mundo, com telas, instalações e murais em espaços urbanos, que brincam com a imaginação dos visitantes, coletiva ou individualmente.
“Essa exposição coloca tudo isso junto”, afirma Gustavo Pandolfo. “Um desenho num papel pode virar um avião inteiro, pintado com muitas tintas e sobre um fundo totalmente diferente, com técnicas distintas para produzir um efeito que nos caracteriza e que é parte de nosso processo criativo”, explica ele. “Gostamos de trabalhar com múltiplos suportes e materiais variados”, ressalta.
Otavio, por sua vez, destaca peculiaridades da arte que cria com o irmão. “Nossa caligrafia e nossos desenhos contam a história de nossos lugares: de onde viemos, como nos formamos. Nossos segredos funcionam como uma espécie de templo: “É onde a gente se encontra em paz, em harmonia, vinculados à família e aos amigos, e, sobretudo, ao que a gente mais acredita”, revela. “Este é o alicerce do nosso trabalho”, conclui Otavio.
Uma das atrações da nova exposição dialoga, em versão 3D, com as experiências caligráficas: trata-se de uma estante com o formato das letras que compõem o nome da dupla, em escala humana.
O trabalho de Gustavo e Otavio ganhou destaque quando os artistas começaram, no início de 1990, a produzir diversos tipos de arte, com destaque para os grafites nas laterais dos edifícios. Diversos murais criados por eles ocuparam grandes espaços em São Paulo, cidade de nascimento da dupla. As suas obras partiram do bairro de Cambuci, na zona central da capital paulista, para diversas cidades e museus mundo afora.
A questão técnica é uma característica fundamental do trabalho. O domínio de diferentes formas de pintar veio da necessidade de trabalhar, desde os anos 1980, com a diversidade de suportes e, muitas vezes, com a escassez de recursos. Frequentemente precisavam combinar o uso de tintas à base de água com o spray, por exemplo. Um desenho podia ter uma parte pintada sobre madeira e outra sobre uma parede de alvenaria ou, ainda, poderia incorporar um resto de lona de feira. Também desenvolveram a técnica de contorno de traço fino com spray para poder materializar todas as ideias e detalhes que tinham em mente.
Outro destaque da exposição é a configuração renovada de Templo e de Gigante, obras adaptadas especialmente para o espaço do CCBB Belo Horizonte. Ambas estarão estruturadas no pátio interno.
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