Economia

Guerra Rússia X Ucrânia piora a inflação pós-pandemia

Não há negociação de paz à vista para o conflito, que já dura um ano, o que pode piorar a inflação mundial
Guerra Rússia X Ucrânia piora a inflação pós-pandemia
Volodymyr Zelensky (Presidente da Ucrânia) e Vladimir Putin (Presidente da Rússia) | Créditos: Reuters

Um ano após as tropas russas invadirem o território ucraniano, vários setores da economia mundial ainda sentem fortes consequências. No Brasil, a alta dos preços dos alimentos observada nos supermercados decorre de problemas climáticos, mas também refletem as consequências do conflito.

É que Rússia e Ucrânia são grandes produtores de grãos. Juntos, correspondem a 1/3 da comercialização mundial de trigo. Também concentram cerca de 20% do mercado mundial de milho. E a guerra ainda faz as cotações do petróleo, do gás natural e dos fertilizantes dispararem no mercado internacional.

Aqui no Brasil, a escalada de preços vem afetando o custo operacional e financeiro de mercadorias e o encarecimento do combustível impõe um consumo mais racionado. O agronegócio também é fortemente afetado, pois há anos, os fertilizantes importados da indústria russa são fundamentais para o produtor rural brasileiro.

Para o economista da Ativo Investimentos, Diego Hernandez, a guerra, em seu percurso, trouxe desgastes profundos para a economia brasileira e mundial, em termos de inflação. “O primeiro ponto foi a crise energética. Isso porque a Rússia é a segunda maior produtora de gás natural global e a terceira maior produtora de petróleo do planeta. Essas duas posições por si só já geram uma volatilidade nos preços, dado que você tem uma restrição de oferta”.

Hernandez ainda explica que, diante dessa restrição, pode ser que não haja outros ofertantes para suprir a demanda de imediato, criando, portanto, uma crise de abastecimento. “A crise energética, de certa forma, já elevaria todos os outros preços da economia. Esse fato ocorre dado que é preciso o frete de todos os alimentos. Já haveria impactos relevantes”, diz.

Apesar de a relação comercial entre o Brasil e a Rússia não ser das maiores, o comércio entre os dois países é significativo. De acordo com dados do Ministério da Economia, em 2021, antes do início do conflito armado, o Brasil exportou US$ 3,4 bilhões para a Rússia, principalmente em produtos como carne, açúcar, soja e café. Já as importações do Brasil da Rússia, que incluem fertilizantes, petróleo e gás, foram de US$ 1,8 bilhão.

Saída para Brasil é depender menos de países em conflitos

Para o especialista em comércio internacional e diretor da Efficienza, Fábio Pizzamiglio, a situação do movimento econômico como resposta à guerra é cada vez mais preocupante. “Precisamos aumentar os mercados e ter a produção nacional fortalecida. O novo governo federal precisa buscar alternativas, para diminuir nossa dependência dos países em conflito”, sugere.

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Atualmente, pelo mundo, o maior produtor de fertilizantes e também de grãos é a China. Inclusive, Brasil e China são excelentes parceiros comerciais em vários nichos mercadológicos, conforme aponta a economista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luciana Silvestre. “Um lado positivo da China é que ela não optou em declarar apoio total à Rússia e nem para a Ucrânia. Ela ficou no muro, e isso, por um lado pode ser até bom, porque ela não cria conflitos, mantendo a neutralidade. Afinal, ela acaba sendo uma potência maior do que ambos os países em vários aspectos, não prejudicando tanto os seus mercados”, aponta.

Do ponto de vista do economista Eduard Sebástian, não existe um precedente para a situação atual da guerra. Segundo ele, essa é a primeira grande crise global de um fato iniciado na Europa, desde a queda do muro de Berlim. “Pelo menos, na minha forma de ver, nós temos uma situação tripolar. Há países realmente mais poderosos que a Rússia. No entanto, não podemos enxergá-la apenas como potência regional, mas sim como parte de um tripolar global, ao lado de Estados Unidos e a China”, diz.

Hernandez relembra que a economia brasileira já vinha de um ciclo de muita liquidez no mercado por conta da pandemia. Inclusive, todos os bancos centrais tiverem que injetar recursos para que as economias conseguissem sobreviver. “Na sequência, surge a guerra para piorar ainda mais esse quadro, e isso fez estender uma inflação maior em todo o globo”, enfatizando que o conflito foi uma forma de jogar mais lenha na fogueira da inflação.

Para Silvestre, caso o Brasil e os demais países não encontrem novas possibilidades de negociações para sofrer menos impacto, a tendência é quase que irreversível a curto prazo. “É bem provável que os bancos centrais não consigam reverter essa realidade da alta de juros em tão pouco tempo. Fora que, no mercado financeiro, por exemplo, é frequente novas quedas de ações de companhias e multinacionais, cuja sedes ou maioria de suas produções estejam concentradas na Europa. Essa vai ser uma pressão inflacionária global com efeitos diretos na inflação do mercado interno brasileiro”, avalia.

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